Seguidores

sábado, 20 de agosto de 2011

Para Onde foi Toda a Sabedoria?

Por Michel Thau
O termo "filósofo" vem até nós dos antigos gregos e significa "amante da sabedoria". Todo mundo hoje em dia sabe o que é um amante, ou pelo menos pensa que sabe. Mas um fato curioso é que o conceito de sabedoria quase desapareceu de nossa vida cotidiana — não completamente, como "diligência" ou "coche" e outros termos usados para a charrete puxada por cavalos, que desapareceram das conversas normais, sendo conhecidos apenas entre os leitores de literatura vitoriana. Todo mundo ainda tem alguma ideia do que é sabedoria, e tê-la deve ser uma coisa boa. Entretanto, o fato de a ideia da sabedoria não aparecer com muita frequência em nossa vida diária nos faz perguntar se achamos de fato que ela é uma coisa boa.

Quando foi a última vez que você ouviu alguém ser descrito como sábio ou que você pensou em alguém como sábio? Pergunte a si mesmo se a noção de sabedoria alguma vez lhe passa pela cabeça, aparece em seus sonhos e planos para o que você gostaria de ser. A palavra "sábio" ainda aparece às vezes em conversas — talvez você ouça alguém dizer: "qual seria a decisão sábia a tomar?" —, mas é mais provável que seja usada em um sentido negativo, como: "Não banque o sábio comigo", com a conotação de "sabichão". Mas a maioria de nós, em nossas conversas diárias, nunca pensa na sabedoria nem fala de modo positivo de alguém sábio.

O conceito de sabedoria não só quase sumiu da cultura comum, mas também da maioria dos departamentos de Filosofia em nossas faculdades e universidades. Embora você encontre pilhas de livros e artigos escritos por professores de Filosofia a respeito de tópicos como crença, conhecimento, desejo e outras disposições e atitudes cognitivas, eu ficaria surpreso se você achasse mais que um punhado de ensaios acadêmicos publicados na duas últimas décadas sobre o tema da sabedoria. E eu aposto que a maioria ou tudo do que você encontrar será matéria histórica — uma espécie exumação das ideias daqueles grandiosos vultos já mortos.

Tampouco a noção de sabedoria está mais viva na mente dos idos quando eles não estão escrevendo seus artigos em periódicos profissionais, mas apenas vivendo a vida. Embora a palavra "filósofo" ainda signifique "amante da sabedoria", você nunca ouvirá em uma reunião administrativa do departamento de Filosofia de qualquer faculdade um filósofo dizer a o "Acho que esse emprego deve ser dado a Fulano porque ele ama a sabedoria mais que tudo", ou sequer: "Ele é mesmo sábio" — você vai ouvir, as palavras "inteligente", "brilhante" ou "rápido", muito usadas como termos de elogio, ou pelo menos o quanto for possível ouvir um professor de filosofia elogiar outro; mas é quase inconcebível que algum filósofo acadêmico contemporâneo descreva outro em termos de presença ou ausência de sabedoria.

A sabedoria é uma virtude tão negligenciada que até o departamento oficial da universidade, no qual o amor pela sabedoria deveria residir, não parece ligar muito para ela.

Retirado do livro: Super-Herois e a Filosofia: Verdade, Justiça e o Caminho Socrático. Editora Madras, 2005.

0 comentários:

Postar um comentário