Seguidores

sábado, 13 de agosto de 2011

A Importância dos Pequenos Gestos de Gentileza

Por F. Altamir da Cunha
Talvez poucas pessoas acreditem na importância dos pequenos gestos de gentileza. Para algumas, até parece um grande sacrifício desejar um bom dia ou mesmo externar um sorriso.

Partindo do princípio que diz: ”Pensamentos e atitudes geram pensamentos e atitudes idênticos”, podemos afirmar que a gentileza de hoje, mais cedo ou mais tarde, retornará para aquele que a praticou. Como todo bem, não devemos desistir de praticá-la, só porque não somos retribuídos. O mais importante é a oportunidade de sermos gentis, e não a de recebermos gentilezas; além do mais, a vida parece ser mais generosa com os que persistem no bem, ainda que não vejam possibilidade de retorno.

No livro “Pequenos Milagres – Coincidências extraordinárias do dia-a-dia” (Yitta Halberstam e Judith Leventhal - Editora Sextante), o autor narra um caso acontecido na Polônia:

***

Na década de 1930, Samuel Shapira, ilustre rabino da aldeia polonesa de Prochnik, tinha o hábito de dar caminhadas revigorantes pelo campo. O rabino, que era conhecido por suas atitudes calorosas, amáveis e piedosas, sempre fez questão de cumprimentar todas as pessoas por quem passasse - judeus e não-judeus - e, seguindo um ditame do Talmude, procurava sempre cumprimentá-las em primeiro lugar.
Uma das pessoas que ele cumprimentava com regularidade nos seus passeios diários era um camponês chamado Herr Mueller, cuja propriedade ficava na periferia do vilarejo. Todas as manhãs, o rabino Shapira passava pelo lavrador, que trabalhava diligente nas suas terras, e fazia um cumprimento de cabeça, dizendo, com a voz retumbante e cordial: "Bom dia, Herr Mueller!"
Inicialmente, quando o rabino havia começado a cumprimentar Herr Mueller, o lavrador lhe virava as costas num silêncio de pedra. As relações entre judeus e cristãos naquela aldeia não eram muito boas e as amizades bastante raras, o rabino Shapira, entretanto, não se sentiu desencorajado dissuadido. Dia após dia, ele cumprimentava o silencioso Mueller com um simpático olá, até que, finalmente, convencido da sinceridade do rabino, o lavrador começou a retribuir o cumprimento com um toque no chapéu e um sorriso tímido.
Esse costume durou muitos anos. Todas as manhãs o rabino Shapira gritava: "Bom dia, Herr Mueller!" E todas manhãs, Herr Mueller tocava no chapéu e gritava de volta “Bom dia , Herr Rabiner!" Isso parou quando os nazistas chegaram.
O rabino Shapira e sua família, com todos os residentes no vilarejo, foram levados a um campo de concentração. O rabino Shapira foi transferido de um campo para outro até chegar ao seu destino final: Auschwitz.
Quando desembarcou do trem, recebeu ordem de entrar numa fila onde estava ocorrendo a seleção. Parado no final da fila ele via ao longe o bastão do comandante do campo que indicava a esquerda e a direita. Ele sabia que a esquerda significava a morte certa, mas a direita garantia algum tempo e uma possível sobrevivência.
Com o coração palpitando, ele foi se aproximando do comandante, à medida que a fila avançava. Logo chegaria sua vez. Qual seria a decisão? Esquerda ou direita?
Estava a uma pessoa de distância do encarregado da seleção, o homem cuja decisão arbitrária poderia mandá-lo para as chamas. Que tipo de pessoa era esse comandante, um homem que podia com tanta facilidade mandar para a morte milhares de pessoas por dia?
Apesar do seu próprio medo, olhou com curiosidade, quase com coragem, para o rosto do comandante quando chegou a sua vez. Naquele momento, o homem voltou-se para ele e seus olhos se encontraram.
O rabino Shapira aproximou-se do comandante e disse, em voz baixa:
- Bom dia, Herr Mueller!
os olhos de Herr Mueller, frios e insondáveis, tremeram por uma fração de segundo:
- Bom dia, Herr Rabiner! - respondeu ele, também em voz muito baixa.
E então estendeu o bastão para a frente. "Recht”, gritou ele, com um movimento quase imperceptível de cabeça. "Direita!"
Para... a vida!

Retirado de:
Pequenos Milagres: Coincidências extraordinárias do dia a dia. de Yitta Halberstam & Judith Levental. Ed. Sextante, 1998.

0 comentários:

Postar um comentário