Seguidores

domingo, 12 de janeiro de 2014

Sobre a Busca de Deus, Carma e Iluminação


Por Gerta Ital
Desde que o homem começou a pensar, existem demandantes que procuram a iluminação e encontram-na. A cadeia jamais foi rompida, mas a única coisa que chegou até nós foram os nomes dos mestres do zen de maior fama. A grande maioria dos que chegaram à iluminação é formada por anônimos.
O homem vem procurando Deus desde a aurora da história: nas cavernas da Idade da Pedra, na América do Norte dos tempos antigos, muito antes da chegada do homem branco, no culto da “Grande Mãe” da Europa, no culto de Ísis e Osíris do Egito e, posteriormente, nas chamadas Religiões Universais. E não importa onde nem em que condições, sempre que o homem procurou Deus, encontrou-o. Mesmo antes de construir um templo para o Divino ou para os atributos dele, que eram os deuses, nunca houve um único lugar desta Terra em que o Homem não estivesse orando, procurando e meditando. Em nossa Terra, onde quer que ponhamos os pés, estamos pisando em solo sagrado.
Não há como negar a verdade miraculosa do seguinte: desde tempos imemoriais o homem sempre carregou em si a centelha divina, e sempre conseguiu perceber o potencial divino que há em si próprio. A expressão exterior desta percepção pode ter sido diferente em épocas diferentes e em sociedades diferentes, mas sempre existiu. Na realidade, o homem é imortal.
Nossa tarefa, que é desejo de Deus, é despertar a centelha interior e, se possível, abaná-la para obter uma chama bem grande. A eterna pergunta é: "Como?" O melhor meio de começar é fazer um exame objetivo da situação em que você se encontra, tomando muito cuidado para não permitir que nenhuma emoção distorça suas observações.
Depois, independentemente de sua situação ser boa ou má, satisfatória ou insatisfatória, sua próxima tarefa é aceitá-la. Este é o primeiro obstáculo grande a ser transposto, e só pode ser transposto se você conhecer a natureza do carma.
A situação em que nascemos, nossos pais, o ambiente e a profissão que temos, tudo é determinado pelo carma, isto é, tudo é fruto do que fizemos nas encarnações anteriores a esta. Tendo compreendido perfeitamente isso, você vai começar a ver que, na realidade, está exatamente onde precisa estar, e na Terra não há outro lugar mais adequado a você nesta fase de seu desenvolvimento, mesmo que agora não lhe pareça que tudo está tão satisfatório assim. Compreender isso é o começo da aceitação.
O ponto que precisa ser reforçado a seguir é que você tem de aceitar seu carma incondicionalmente, sem nenhum "e se..." nem "mas..." Tudo tem que vir do coração. Não cometa o erro de esperar que as coisas vão melhorar se você se obrigar a “aceitar”: isso não vai adiantar absolutamente nada. Você tem de entender de verdade e aceitar de verdade, completamente. Mas depois de conseguir isso pode estar certo de que já superou o maior dos obstáculos do caminho Tenho que confessar que não é nada fácil, por que exige muita intuição e resistência interior, mas a recompensa é incrivelmente grande. (...)
Depois de conhecer bem a própria situação e aceitá-la, o terceiro passo do caminho é começar a livrar-se do carma que você trouxe das vidas anteriores. Não se importe em saber se o carma de agora é bom ou não; todas as pessoas que fazem parte do drama de sua vida estão aqui para equilibrar tudo que aconteceu antes; e cada ator tem alguma coisa a aprender.
Geralmente, as relações cármicas que há nas famílias, entre pais e filhos ou entre irmãos e irmãs, são extremamente negativas. Tanto são que infelizmente as pessoas que tomam parte nesse tipo de relacionamento começam não querendo ou não conseguindo examinar melhor seu próprio carma.
Se você está nessa situação, precisa entender que tem de encará-la; acontece que não há outra saída. O caminho para Deus, que você está ansiando por encontrar, só vai ficar livre quando você jogar fora o carma que veio junto consigo para esta vida. Literalmente falando, o carma é um obstáculo que há no caminho, um obstáculo que você não pode contornar nem saltar. Você Tem de enfrentá-lo e negociar com ele; de outra forma, não consegue continuar. Apesar de tudo, não é tão difícil como parece no começo. E uma simples questão de perseverança e paciência. (...)
Ao mesmo tempo, você precisa esforçar-se para apagar todos os pensamentos negativos que tiver em relação aos outros, especialmente as pessoas que encara como inimigas. Provavelmente vai verificar que pensa demais nisso, com uma intensidade muito grande; o fato é que os hábitos e as emoções entranhadas em você resistem muito a mudar. Mas, por mais paradoxal que pareça, trata-se de um ótimo sinal. É uma indicação, embora negativa, de que alguma coisa começou a movimentar-se em seu mundo interior. A pergunta seguinte é: "Como se deve lidar com os pensamentos negativos desse tipo?" A tendência inicial do principiante, que tem de ser evitada a qualquer custo, é suprimir esses pensamentos. Logo que você perceber estar pensando mal de alguém, simplesmente ordene-se para pensar bem, sem imaginar o que pode acontecer depois. Concentre-se em formar um pensamento positivo, sem procurar lutar contra o pensamento negativo. Por exemplo, você poderia dizer algo como: "Desejo que tudo esteja bem com ele (ou com ela)".
Os pensamentos negativos nos chegam com certa regularidade e, cada vez que um deles chegar, você deve equilibrá-lo com um pensamento positivo. Se persistir em fazer isso durante alguns meses, vai perceber que os seus pensamentos negativos ficam cada vez menos frequentes. Com o decorrer do tempo, vai admirar-se quando vir que todo o problema que havia com a pessoa em questão simplesmente se dissolveu no ar, e os sentimentos de repulsa e raiva que haviam pesado em você se transformaram em equanimidade. Essa descoberta sempre é acompanhada de um sentimento de beatitude assombroso e indescritível, pois significa que já foi eliminada uma partícula de sua carga de carma. Duvido que a maioria das pessoas entenda exatamente a importância deste primeiro caso, pois as implicações verdadeiras disso estão além da compreensão humana. Mas isso não tem importância. Tudo que você real mente tem de saber é que agora está livre para se empenhar na tarefa seguinte,
Há uma coisa à qual você tem de resistir a todo custo enquanto estiver praticando estes exercícios e posteriormente: a tentação de confrontar seus “inimigos” com demonstrações sentimentais de amor. Esse tipo de ato constitui um obstáculo para o progresso, pois são coisas motivadas por desejos e anseios humanos que, como tais, só conseguem produzir resultados negativos Um exercício espiritual silencioso é muito mais eficiente do que 100 mil boas ações. O motivo disso é que todo aio físico produz uma reação igual e isso cria mais carma. Só a “ação” espiritual dissolve o carma em vez de criá-lo.
Se você quiser aproximar se mais do divino, primeiro precisa libertar-se de sua carga de carma, começando com o carma que consegue ver e reconhecer. Depois, o restante se revelará por si.
Você pode perguntar: "E quanto a meu inimigo? Ele é tão responsável pela situação quanto eu. Por que não faz nada? Por que só eu tenho que agir?” A resposta é que o “trabalho” de transformação espiritual sempre tem que ser feito por quem sabe. Se você recebeu a graça de ver e entender , você é a única pessoa responsável por efetuar a mudança necessária.
Um dos aspectos miraculosos deste processo de transformação bem separado da libertação da própria pessoa, é o fato de o inimigo da pessoa também ficar livre da carga de carma, ao menos no que diz respeito a situação em questão. Quando uma pessoa consegue eliminar os próprios sentimentos de ódio e o desejo de se vingar de ofensas imaginadas, uma parte do carma do inimigo também desaparece ao mesmo tempo.
Digo “ofensas imaginadas” por um bom motivo, pois na realidade não existe algo chamado ofensa. Injustiça é uma ilusão que desaparece logo que a pessoa compreende a lei do carma. Se tosse possível haver injustiça, se mesmo uma única pessoa tivesse de sofrer uma injustiça verdadeira, o universo não seria divino, seria um caos arbitrário.
No entanto, o fato de o universo ser de lato divino foi mais do que comprovado por todos os que procuraram e encontraram Deus, desde o início da história da humanidade. E esta não é a única prova: o simples fato de a raça humana ainda estar aqui, procurando, buscando e discutindo, apesar da terrível miséria e do desespero horrível em que vive a maioria das pessoas, demonstra que existe uma centelhinha minúscula de Verdade Eterna dentro de cada um de nós, sem exceção. Lá está ela, nós todos nascemos com ela e, independentemente dos infernos por que passamos, não pode ser destruída. Se pudesse, a humanidade teria morrido há muito tempo. Somente esta centelha do Divino, que liga tudo e todos, deu aos filhos e às filhas do homem a força para sobreviverem e prosseguirem no meio do desespero que os cerca. Visto neste contexto, o desespero do homem não é simplesmente desespero, é também uma parte do processo de purificação.
Se você proceder como descrevi acima, vai verificar que consegue muita coisa por conta própria, desde que persista com paciência. Tendo conseguido libertar o coração do maior obstáculo ao progresso (ou seja, das formas mais pesadas do carma, que implicam seu relacionamento com o ambiente e com as pessoas que estão a seu redor, ou de outros obstáculos que poderá descobrir no decorrer de suas meditações), pode começar a trabalhar nas suas fraquezas e defeitos. Comece com seus defeitos maiores e mais óbvios e trabalhe neles devagar e com muita paciência, um de cada vez, seja eliminando-os completamente, seja transformando-os em propriedades positivas.
É possível efetuar todo este “trabalho preparatório” sem o auxílio de nenhum mestre. Se você for severo e honesto consigo mesmo, a centelha divina que há em si virá em seu auxílio, capacitando-o tanto a encontrar os obstáculos de seu caminho como a eliminá-los. Cada passo bem sucedido dessa viagem para Deus vale os esforços de uma vida inteira. Esta autodisciplina é difícil, mas possível. Qualquer pessoa consegue mantê-la. Posso confirmar isso por experiência própria, pois eu mesma fiz isso.

(Gerta Ital, No caminho do Satori, Editora: Siciliano, 1992.)

0 comentários:

Postar um comentário