Ser rejeitado ou aceito é uma coisa.
Sentir-se rejeitado ou aceito, apegar-se à ideia de rejeição ou de aceitação,
já é outra coisa bem diferente. De tudo isso, somos forçados a concluir que os
sentimentos de rejeição ou de aceitação não passam de estados mentais sobre
determinadas realidades. O que aprofunda o dualismo, o conflito entre o sujeito
e o objeto. Entre a coisa ou o fato e o que pensamos e sentimos.
Se uma pessoa não gosta de mim, isto é
um fato que está no eu dessa outra pessoa, não em mim. É a outra pessoa, não
eu. Agora, quando eu sinto em mim e
não gostar do outro, quando me aborreço com o fato de outro tira gostar de mim,
aí meus sentimentos passam a existir em função dos sentimentos do outro. E o
mesmo com relação ao fato de um outro gostar de mim.
Como, por conta própria, não temos muita
certeza se somos ou não o que imaginamos ser, precisamos da aceitação dos
outros para confirmar. Daí a necessidade de nos apegarmos ao sentimento de
rejeição ou de aceitação. E quanto mais o homem cultiva o seu eu, se fecha em
si mesmo, mais ele tem a necessidade de ansiar pelo aplauso e de temer a vaia.
Porque ao se apegar demais a si mesmo, só pensar em si mesmo, o homem está ao
mesmo tempo procurando uma definição para o seu ser.
Quem se fecha em si mesmo não é, como
parece, alguém que não liga para a opinião dos outros, mas quem está mais
necessitado dela.
Se não tivermos na mente as ideias
contraditórias de aceitação e rejeição, seremos aceitos por quem tiver necessidade de nos aceitar e rejeitado
por quem tiver necessidade de nos
rejeitar. Só isso.
Somos aceitos ou rejeitados de acordo
com circunstancias determinantes e não porque sejamos essencialmente uma
entidade aceitável ou rejeitável. Mas seremos entidades aceitáveis ou rejeitáveis se colarmos em nós esses
rótulos. É sabido que uma pessoa apegada a ideia de rejeição induz os outros a
rejeitá-la
Quando temos, a priori, o conceito de
sermos rejeitados, nos fica difícil compreender a realidade circunstancial da
rejeição.
(Nelson
Coelho, Zen: Experiência Direta de
Libertação, Editora Itatiaia, 1978.)
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