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terça-feira, 21 de janeiro de 2014

As Ideias Dominantes Numa Época são da Classe Economicamente Dominante

Para Marx não há verdades eternas ou metafísicas que percorram a história das sociedades humanas à margem das transformações que a vida dos homens sofre.
Todas as ideias que os homens produzem são «acontecimentos históricos», resultam de uma evolução histórica: são dominantes numa determinada época e deixam de o ser noutra, estando intimamente ligadas à evolução das condições concretas de vida dos homens.
Vimos acerca das duas dimensões essenciais de uma sociedade que a infraestrutura (a base econômica ou real) condicionava a superestrutura (as formas de consciência, as ideias, os valores).
Aquilo que os homens pensam acerca de si, da sociedade e do mundo é influenciado pelas suas condições materiais ou econômicas, pelo modo como estão inseridos nas relações de produção que se dão numa sociedade historicamente determinada.
Ao longo da história e excetuando uma fase incipiente — o comunismo primitivo — as relações de produção têm sido relações de desigualdade econômica. A evolução econômica das sociedades — a passagem de um modo de produção a outro — está na origem da divisão da sociedade em classes
As classes são grupos de indivíduos com interesses econômicos antagônicos que, no interior das relações de produção, possuem um estatuto diferente a respeito da propriedade dos meios produtivos: a classe economicamente dominante num certo modo de produção é aquela que possui a propriedade privada dos meios produtivos, negando assim à outra esse estatuto.
Assim, no modo de produção feudal — essencialmente agrícola — a classe economicamente dominante é aquela que possui a fonte produtora de riqueza: a terra. Essa classe é a nobreza.
Em geral, aqueles que não possuem esse meio produtivo por excelência estão reduzidos à servidão.
Se passarmos do modo de produção feudal ao modo de produção capitalista — essencialmente industrial — a classe economicamente dominante é aquela que possui em exclusivo os meios de produção de riqueza (fábricas, minas, máquinas, meios de transporte, etc).
O que há de comum entre estas duas classes, entre a nobreza feudal e a burguesia industrial? O que aproxima duas classes cujo domínio se exerceu em épocas diferentes (a burguesia mediante a revolução industral retirou à nobreza o seu estatuto de classe dominante)?
Quem possui os meios de produção pode pôr ao seu serviço, submeter à sua vontade e ao seu interesse, aqueles que, não os possuindo, se veem obrigados para sobreviver a vender ou alienar a sua força de trabalho.
A classe economicamente dominante, em determinada época, tem sempre ao seu dispor um grande número de homens cujo trabalho não só lhe garante a subsistência e a riqueza como também a deixa disponível para um outro tipo de produção que não a material: a produção intelectual.
Por outras palavras, certos membros da classe economicamente dominante, libertos da necessidade de se empenharem na produção material da sua vida, podem dedicar-se ao trabalho intelectual, à elaboração de teorias ou doutrinas acerca do mundo, da sociedade, do homem, etc.
Por isso não é de admirar que Marx denuncie que as ideias dominantes numa determinada época são as ideias da classe economicamente dominante, ou seja, que quem controla os meios de produção material exerce o seu domínio sobre a produção mental ou intelectual. E porquê denunciar tal fato?
Porque as doutrinas ou concepções da classe dominante são apresentadas como se não fossem suas, isto é, como se fossem universais ou não condicionadas por interesses particulares. Os produtores dessas ideias dão-nos a impressão de falar em nome da razão humana universal.
Segundo Marx devemos suspeitar desta aparente objectividade. Com efeito, nessas doutrinas ou teorias pretensamente autónomas ou objectivas, os intelectuais da classe dominante, muitas vezes sem disso terem explícita consciência, exprimiam o interesse da classe a que pertenciam.
Tais ideias, apresentadas, consciente ou inconscientemente, sob o disfarce de leis da natureza e de princípios morais e religiosos absolutos (imutáveis, como se não tivessem história), tendem a ser encaradas como verdades eternas pelos próprios oprimidos.
Segundo Marx, elas refletiam os interesses econômicos e políticos da classe dominante. Apresenta--se o interesse da classe dominante como verdade natural, universal ou absoluta. Qual o objetivo?
Nega-se idealmente a razão de ser dos conflitos e contradições existentes numa sociedade determinada, fomentado-se assim uma atitude conformista em relação ao estado de coisas vigente.
Não dizia Aristóteles que uns homens nascem para mandar e outros para serem mandados?
Não refletirá esta ideia os interesses econômicos da classe dominante que vivia do trabalho de escravos?
O mesmo Aristóteles afirma que o ideal de vida próprio do homem é a vida contemplativa. Esta ideia, conjugada com a anterior, traduz o desprezo pelo trabalho manual, considerado como condição natural ou destino de homens inferiores.
Quer Aristóteles disso tivesse consciência ou não, estava no plano das ideias a traduzir o interesse da classe dominante em perpetuar uma organização social fundada no modo de produção escravagista.



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