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segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

A Perfeição Não Existe!

Por Allan Watts
"(...) Para o Taoísmo, tudo o que está absolutamente tranquilo ou absolutamente perfeito está completamente morto, pois o que não tem mais a possibilidade de crescimento e de mudança não pode ser o Tao.
Na realidade, nada há no universo que seja inteiramente perfeito ou completamente tranquilo; só na mente dos homens é que esses conceitos nasceram, e são exatamente esses conceitos que, de acordo com o taoísmo, constituem a raiz da miséria humana.
Pois o homem se apega às coisas na vã esperança de que elas possam permanecer imóveis e perfeitas; ele não se reconcilia com o fato da mudança; ele não deixa o Tao seguir o seu curso.
Assim, Lao Tzu e seu grande expoente Chuang Tzu ensinaram que a mais elevada forma do homem é a do que se adapta e mantém o passo com o movimento do Tao.
Somente esse homem poderá achar a paz, pois o fato de o homem notar e lamentar a mudança mostra que ele próprio não está se movendo com o ritmo da vida.
O movimento só é notado em relação a algo que esteja relativamente tranquilo, mas essa é uma falsa tranquilidade, pois cria atrito com o que está em movimento.
Se o homem acertar o passo com o Tao, encontrará a verdadeira tranquilidade, pois então estará se movendo com a vida e não haverá o atrito.
Essa doutrina pode degenerar facilmente num mero laissez-faire, e, assim, o taoísmo eventualmente se tornará um simples fatalismo, ao passo que o ensinamento original está muito longe disso. Pois, conjugado com a doutrina do Tao, está o ensinamento do wu-wei, o segredo de dominar as circunstâncias sem nos envolvermos com elas.
Wu-wei tem sido traduzido por muitos eruditos ocidentais como não-ação e num adulterado taoísmo recebeu o mesmo significado. Atualmente, é o princípio subjacente do jiu-jitsu – uma forma muito bem-sucedida para dominar o oponente numa luta -, o princípio de lidar com uma força que se opõe a nós de tal maneira que ela seja incapaz de nos fazer mal, e, ao mesmo tempo, mudando a sua direção, empurrando-a por trás em vez de tentar resistir a ela frontalmente.
Assim, um mestre perito da vida nunca se opõe às coisas; nunca tenta mudar as coisas tentando se afirmar contra elas; ele cede à sua plena força, ou a impele ligeiramente para fora da sua linha direta, ou então move-a na direção oposta sem nunca opor-se diretamente a ela. Isso quer dizer que ele trata as coisas de forma positiva; provoca-lhes a mudança ao aceitá-las, ele as aceita confiantemente, nunca com uma negativa brusca.
Talvez wu-wei possa ser mais bem compreendido pelo seu contraste com o seu oposto, yu-wei. O caráter para yu compõe-se de dois símbolos - mão e lua -, significando, assim, a ideia de capturar a lua como se ela pudesse ser capturada. Mas a lua impede qualquer tentativa de submissão e nunca fica parada no céu; além do mais, nenhuma circunstância pode impedir suas mudanças, apesar de tentarmos segurá-la conscientemente.
Portanto, enquanto yu significa tentar captar o que é ilusório (e a vida como o Tao são essencialmente ilusórios), wu não é somente "não segurar", mas também É aceitação positiva da ilusão e da mudança.
Assim, a mais elevada forma do homem transforma-se num vácuo, de forma que todas as coisas são atraídas por ele; ele aceita tudo, até que, ao incluir todas as coisas, torna-se o seu mestre. Trata-se, portanto, do princípio de controlar as coisas entrando em harmonia com elas, do lomínio através da adaptação."

(Allan Watts – O Espírito do Zen - Coleção L&PM Pocket, 2008)

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