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domingo, 22 de dezembro de 2019

Ser Feliz igual ao Buda


Por Igor Teo
Eu acho o budismo particularmente interessante por ser uma filosofia-religião que, desde o princípio, se dedicou a pensar sobre o problema da felicidade. Afinal, todos nós queremos ser felizes. O que é necessário para alcançá-la?

Antes de ser o Buda, Sidarta Gautama cresceu num palácio. Ele experimentou todo tipo de privilégios que um homem rico e bem-afortunado de sua época poderia obter. Já quando adulto, decidiu abandonar sua vida de luxo e viajar pelo mundo. Fora das muralhas de onde cresceu, encontrou a dor, a velhice e a morte.

Sidarta descobriu que, por conta disto, as pessoas estavam em constante sofrimento no mundo. E ele queria fazer algo para ajudá-las. Portanto, decidiu que iria estudar a felicidade, e quando a compreendesse, poderia finalmente curar o sofrimento do mundo.

Se um acadêmico de nosso tempo desejasse estudar a felicidade, provavelmente realizaria um estudo estatístico através de um questionário, ou talvez tentaria medir as reações fisiológicas de suas cobaias diante de diversos estímulos.

Nada disso existia na época de Buda. O método que ele desenvolveu era muito mais simples. Sidarta apenas começou a meditar. A escutar a si mesmo.

Ele prestava atenção a sua mente, a seus pensamentos, e até mesmo a sua respiração. Foi assim que ele começou a entender como seu organismo reagia às diferentes coisas que lhe aconteciam.

Sidarta descobriu deste modo que estamos muito enganados sobre como podemos encontrar a felicidade. Primeiro, porque pensamos que a felicidade é algo a “encontrar”, como se fosse algo a ganhar depois de ter um amor, uma casa nova, um trabalho ou uma realização.

É verdade que essas coisas podem nos trazer alegrias, mas o prazer delas não é permanente. E isto não era o suficiente para o jovem Sidarta. Como poderíamos nos contentar com a felicidade de uma conquista se, no dia seguinte a ela, nos acostumamos ao ocorrido e voltamos a nos sentir da mesma maneira que antes? Como nos contentar com algo se isso não pode ser absoluto?

Pois nada é permanente. Nem o mais rico palácio, nem o corpo mais belo. Muito menos a sensação de felicidade ao possuir estas coisas. Um dia tudo acaba ou se transforma, de modo que a alegria que você tem agora pode se tornar tristeza no momento seguinte.

É verdade que prazeres externos — como riqueza, beleza e honra — são ilusórios. Mas Sidarta foi mais além que todos os pensadores de sua época ao dizer que o modo como nos sentimos também é uma ilusão. Durante um dia mesmo experenciamos uma variedade de emoções. Nenhuma delas é permanente. Por que confiar então na sua felicidade?

Queremos a felicidade porque ela nos faz sentir bem, diferente da tristeza, da raiva ou do medo. Se algo nos deixa felizes, queremos manter esta sensação prazerosa. Como um beijo, um abraço ou a sensação de ganhar uma partida de futebol.

Deste modo, o ser humano sempre controlou o ambiente para atender aos seus desejos. Para que as coisas lhe fizessem bem, e não mal. Criou a fogueira para enfrentar o frio. Mais recentemente, criou o ar condicionado para enfrentar o calor.

Fazemos o que está ao nosso alcance para evitar o sofrimento. Porém, Sidarta percebeu que o ser humano frequentemente se excede nessa busca. Queremos controlar até o mesmo o incontrolável.
Neste momento surge o sofrimento. Quando fazemos de tudo para evitar a dor, a morte e a velhice, e mesmo assim estas coisas ainda acontecem. Paradoxalmente, sofremos justamente quando mais tentamos não sofrer.

Sidarta entendeu que estamos sempre buscando algo. Ele mesmo também estava buscando a felicidade. E viu que isto não estava lhe levando a lugar nenhum. Foi quando finalmente resolveu desistir da busca. Assim se tornou o Buda.

Vivemos uma espiral infinita de necessidades. Sentimos fome, sono, tesão, curiosidade, e por aí vai... Cada uma destas necessidades nos traz um desconforto que queremos solucionar. O nome do que acontece depois que solucionamos um desconforto, um sofrimento, é prazer.

Estamos sempre buscando o prazer. Queremos coisas que saciem nossa fome, que curem nosso cansaço, que satisfaçam o nosso tesão, que alimentem a nossa curiosidade. E por isto mesmo nunca podemos ser felizes. Porque sempre estamos em busca de algo mais, nunca contentes com aquilo que já temos.

Buda entendeu que precisava erradicar o problema pela raiz. Se ele interrompesse o ciclo infinito de necessidades, poderia se sentir mais satisfeito com as coisas que já tinha, por mais parciais, imperfeitas e transitórias que elas fossem. Ele começaria a amar o mundo mesmo com toda dor, velhice e morte.

Dito de outro modo: é claro que um carro novo pode ser muito mais bonito que o seu atual. Mas um carro velho funcionando já pode lhe ajudar a resolver os seus problemas. Será que você realmente precisa de algo mais?

A resposta mais humana a esta pergunta é sim. Nossa sociedade está orientada ao “progresso” constante e infinito. Sentimos que precisamos fazer as coisas de um modo mais rápido, potente e produtivo. Sempre falta algo que podia ser melhor. Precisamos sempre de algo mais.

Porém, o preço de estar sempre querendo mais é viver também sempre descontente. Ao compreender isto, Buda ensinou que se dermos menos atenção a essas variadas necessidades daquilo que pode nos faltar, perceberemos que já temos muitas coisas para sermos felizes agora.

Eu sei que parece muito estranho pensar que a solução para a infelicidade seja simplesmente “não querer mais o que falta e ser feliz assim”. Temos um corpo, um organismo que precisa se manter vivo. Sempre vamos precisar de algo: de comida, de proteção, de amor!

No entanto, essas coisas podem ser mais fáceis e simples do que pensamos. A insaciabilidade do nosso desejo nos faz querer sempre mais, como se tudo aquilo que temos nunca fosse o suficiente. É por isto que o ensinamento budista é tão importante: precisamos deixar de querer mais para perceber que já temos o suficiente.

Quando colocamos isso em prática, percebemos que a natureza ao nosso redor é bela e merece ser apreciada com atenção. Que nossos amigos são os companheiros que realmente precisamos. Que nossa comida é saborosa para o nosso paladar. Todos os dias podemos experimentar momentos de satisfação e gratidão, que normalmente desprezamos por estarmos sempre buscando por mais.

Numa postura de maior aceitação, Buda entendeu que podia curar o sofrimento das pessoas fazendo com que elas esperassem menos pelas coisas que não podiam obter, e aceitassem com apreço aquilo que já possuíam em suas vidas. Qualquer um poderia se tornar feliz seguindo os seus passos.



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