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terça-feira, 24 de dezembro de 2019

História do Lanche XVI: O Sorvete


Sorvete (português brasileiro) ou gelado (português europeu) é uma sobremesa gelada à base de lacticínios, como leite ou nata, à qual é adicionada fruta ou outros ingredientes e sabores.

A maior parte contém açúcar, embora alguns sejam feitos com adoçantes. Em alguns casos, são acrescentados corantes ou aromatizantes como complemento ou substituição dos ingredientes naturais.

A emulsão é batida lentamente durante o arrefecimento, de forma a incorporar ar e prevenir a formação de cristais de gelo de grandes dimensões.

O produto final é uma espuma semissólida suave e consistente, facilmente maleável e que pode ser retirada com uma colher.

Apesar da origem exata do sorvete não ser possível de determinar, existem registos históricos que nos dão uma visão do seu aparecimento.

A versão mais aceita atribui sua autoria aos chineses, por volta de 1000 a.C, quando, talvez, algum cozinheiro criativo experimentou usar flocos de neve para produzir uma iguaria diferente. Animados com o resultado, ao longo dos séculos, foram experimentando. Um outro resolveu colocar uma pasta de leite de arroz e especiarias na neve para que solidificasse

Na China de 4 000 anos atrás, uma sobremesa à base de leite e arroz foi congelada na neve e rapidamente a delícia ganhou prestígio, mas apenas entre a nobreza, que podia dispor de leite (então uma mercadoria cara) e tinha como conservar a neve até o verão, valendo-se de câmaras frigoríficas subterrâneas.

Alguns pesquisadores afirmam que foi Alexandre, o Grande (356-323 a.C.), rei da Macedônia, o introdutor do sorvete na Europa, trazendo do Oriente uma mistura de salada de frutas embebida em mel que era guardada em potes de barro enterrados no chão e mantidos frios com a neve do inverno.

Outra corrente de pesquisadores atribui esse feito aos árabes, que teriam aperfeiçoado a receita chinesa com o desenvolvimento da técnica de incorporar a neve ao suco de frutas e ao mel. Até então, a receita primitiva apenas acrescentava os ingredientes à neve, produzindo algo muito semelhante às atuais “raspadinhas”. Turcos e árabes garantem que “sorvete” é uma palavra de origem árabe, procedente de sharbat, que significa “bebida fresca”.

Babilônios, egípcios, gregos e romanos deliciaram-se com esta guloseima fria cuja preparação, entretanto, era muito complicada e cara, o que fazia do sorvete um prazer para poucos, só desfrutado por reis e pessoas privilegiadas da época. Exigia que se trouxesse neve do alto das montanhas, que ela fosse armazenada em buracos na terra revestidos de madeira onde o gelo era comprimido e coberto com palha para que se conservasse.

Já no século I o imperador romano Nero comia uma mistura de sorvete doce que era feito com a neve e o gelo transportado das montanhas para Roma. O gelo era misturado com coberturas de frutas tendo-se tornado numa sobremesa favorita das elites daqueles tempos.

Mais tarde, entre 618 e 697, o imperador chinês King Tang usava um método semelhante mas misturava leite com o gelo, ficando assim uma espécie de sorvete parecido com os atuais.

Em sua viagem à China, em 1271, o veneziano Marco Polo teria encontrado grande variedade de cremes congelados de frutas. As receitas de sorvete à base de água, teriam vindo em sua bagagem em 1295, junto com o macarrão e o arroz, muito parecidas com as atuais, mas não saíram da Itália.

Catarina de Médici que, ao se casar com o rei francês Henrique II em 1533, levou em sua bagagem receitas e chefes de cozinha que lhe serviam, diariamente, sorvetes dos mais diversos sabores de frutas. Foi um certo Buontalenti, cozinheiro de Catarina de Médici (1519-1589), que introduziu a requintada sobremesa na corte francesa.

Em 1550, Blasius Villafranca, físico espanhol radicado na cidade italiana de Florença, descobriu ser mais fácil congelar a mistura de suco de frutas e especiarias juntando azotato de potássio (salitre) à neve (técnica já conhecida dos chineses desde o século 12).

Essa descoberta deu origem ao que poderia ser chamada de primeira sorveteira da História: dois recipientes de madeira e estanho – um maior, dentro do qual se colocava a mistura de neve, sal e salitre, e outro menor, que recebia os ingredientes que, depois de batidos, virariam sorvete.

Com este rudimentar equipamento e utilizando um método difícil, Villafranca acabou legando aos florentinos a honra de produzir os primeiros a sorvetes completamente solidificados da História e ampliaram a produção democratizando um pouco o consumo do produto. Até meados do século 16, o sorvete continuava a ser preparado com água, ou seja, sem leite ou ovos.

A neta de Catarina de Médicis casou-se em 1630 com Carlos I da Inglaterra e, segundo a tradição da avó, também introduziu o sorvete entre os ingleses. Mais tarde os colonizadores britânicos levaram o sorvete para os Estados Unidos onde este tipo de sobremesa rapidamente ganhou a mesma aceitação que na Europa.

Em Portugal, o sorvete chegou durante o período de dominação espanhola (1580-1640) e faziam sucesso as bebidas nevadas, embora fosse difícil e caro trazer neve da Serra da Estrela para a corte em Lisboa.

Em 1670, o siciliano Francisco Procópio abriu em Paris um café que vendia sorvetes – a primeira sorveteria da história. Surgiram assim novas receitas de misturas geladas com leite e outros ingredientes aromáticos que eram servidos principalmente nas cortes reais francesa e italiana. O sucesso foi tão grande que, seis anos depois (1676), havia mais de 250 fabricantes de sorvete na capital francesa.

Em 1671, na Inglaterra, o leite ou seu creme, ovos e aromatizantes foram incorporados ao sorvete pelo francês DeMirco, pâtissier do rei Carlos II que, diante de uma novidade tão espetacular, tornou ilegal o consumo da iguaria fora da corte real e, dizem, para se garantir, até morrer, em 1685, pagou royalties ao chef pela criação, para que esta fosse exclusividade da sua mesa.

Por volta de 1715, no reinado de D. João V, havia inúmeros fabricantes de sorvete na capital portuguesa. A primeira sorveteria da Inglaterra foi aberta em 1757, na Berkeley Square, Londres, pelo chef-pâtissier italiano Domenico Negri, com o nome de Pot & Pine Apple.

O sorvete chegou aos Estados Unidos em 1770 levado pelo italiano Giovanni Bosio. Em 1776, a cidade de Nova York já tinha o seu próprio salão de sorvetes clássico, tendo-se começado a instituir pela primeira vez o termo “ice cream”, que derivou de “iced cream”. Personalidades americanas como Thomas Jefferson, George Washington e outros, serviam-na aos seus convidados.

Mesmo com todo este sucesso, fabricar sorvete era algo bastante difícil. Esta dificuldade foi resolvida em 1846, quando a norte-americana Nancy Johnson inventou uma espécie de congelador que funcionava com uma manivela e agitava uma mistura dos ingredientes. Na parte de baixo existia uma mistura de sal e gelo que ajudava ao congelamento. Foi esta a máquina percursora da produção industrial de sorvete.

No seguimento da invenção de Nancy, em 1851 e também nos Estados Unidos, o sorvete  viveu um dos momentos mais importantes da sua história. O leiteiro Jacob Fussel abriu a primeira fábrica de sorvetes em Baltimore, começando a produzir em grande escala, acabando por ser copiado por outros empresários de Boston, Washington e Nova York.

O cone do sorvete foi inventado pelo italiano Italo Marcioni, que registou a sua patente em 1903.

Por volta do ano de 1922, um produtor de salsichas britânico começou a ficar preocupado com a quebra nas vendas durante os meses quentes do ano, pois não tinha trabalho para ocupar os seus trabalhadores. Foi quando decidiu produzir gelados embalados e vendê-los a um preço muito acessível.

A venda realizava-se nas ruas usando um carrinho de três rodas com a seguinte publicidade: “Stop me and buy one” (pare-me e compre um). Tinha nascido a venda ambulante de gelados.

Foram os cariocas os primeiros brasileiros a experimentar a delícia gelada que já fazia sucesso em boa parte do mundo.

No dia 23 de agosto de 1834, Lourenço Fallas inaugurava na cidade do Rio de Janeiro, dois estabelecimentos – um no Largo do Paço (atual Praça XV) e outro na Rua do Ouvidor – especialmente destinados à venda de gelados e sorvetes.

Para isso, importou de Boston (EUA), pelo navio americano Madagascar, 217 toneladas de gelo, que aqui foi conservado envolto em serragem e enterrado em grandes covas, mantendo-se por 4 a 5 meses.

Não demorou muito para os sorvetes brasileiros ganharem um toque tropical, misturados a carambola, pitanga, jabuticaba, manga, caju e coco. Na época, não havia como conservar o sorvete gelado, por isso ele tinha que ser consumido logo após o preparo. Por isso, as sorveterias anunciavam a hora certa de tomá-lo.

Em São Paulo, a primeira notícia de sorvete que se tem registro é de um anúncio no jornal A Província de São Paulo, de 4 de janeiro de 1878, que dizia: “Sorvetes – todos os dias às 15 horas, na Rua direita nº 14”.

"No Brasil, antes do sorvete, as mulheres eram proibidas de entrar em bares, cafés, docerias, confeitarias… Para saboreá-lo, entretanto, a mulher praticou um de seus primeiros atos de rebeldia contra a estrutura social vigente, invadindo bares e confeitarias, lugares ocupados até então quase que exclusivamente pelos homens. Por isso, entre nós, o sorvete chegou a ser considerado o precursor do movimento de liberação feminina."

A evolução do sorvete no Brasil, deu-se a passos curtos, de forma artesanal, com uma produção em pequena escala e em poucos locais.

A distribuição em escala industrial no País só aconteceu a partir de julho de 1941, quando, nos galpões alugados da falida fábrica de sorvetes Gato Preto, na cidade do Rio de Janeiro, foi fundada a U.S. Harkson do Brasil, a primeira indústria brasileira de sorvete. Contava com 50 carrinhos, quatro conservadoras e sete funcionários.

Seu primeiro lançamento, em 1942, foi o Eski-bon, seguido pelo Chicabon. Seus formatos e embalagens são revolucionários para a época. Dezoito anos mais tarde, a Harkson mudou seu nome para Kibon.

Fontes:



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