Por
Gilberto Antônio Silva
Ao
entrarmos em uma seção de “filosofia oriental”, ou como geralmente se encontra,
“esoterismo” e “auto-ajuda”, seja em uma biblioteca, livraria ou sebo, nos
deparamos com uma infinidade de obras que mostram caminhos para o ser humano se
conhecer e viver melhor, com mais “espiritualidade”. Isto causa uma certa
confusão na pessoa que busca este tipo de conhecimento. Afinal, qual caminho
devo escolher dentre esta miríade de escolas, linhas, culturas, filosofias,
religiões?
Para
ajudar a selecionar o que é melhor para você mesmo, mostrarei que praticamente
todo este conhecimento se divide em dois caminhos principais que levam à
“Iluminação”: a sabedoria e a devoção.
Estes
dois caminhos são tratados por todas as grandes culturas do mundo, seja de modo
claro, seja de modo disfarçado. Para os indianos os dois caminhos principais
são o Jnana, sabedoria, e o Bhakti, devoção. No Taoismo temos o Daojia (taoismo
filosófico) e o Daojiao (taoismo religioso). Qualquer um destes dois caminhos
pode ser a escolha principal de cada pessoa, de acordo com sua constituição e
necessidade espiritual. Existe um debate dentro do Taoismo, onde muitos afirmam
que não existe essa separação, religião e filosofia são uma coisa só. Eu
concordo, em parte. Filosofia e religião não são uma mesma coisa, simplesmente,
mas ênfases diferentes em um mesmo caminho. Uma pessoa que siga um dos ramos
não é melhor nem pior que outra que se sinta amparado pela outra via, pois
ambas levam ao mesmo destino. Mas é inegável que existe uma atitude diferente às
duas trilhas.
A
sabedoria é o caminho dos filósofos, daqueles que não abrem mão do raciocínio
lógico. Para estes um bom livro e uma boa reflexão são as melhores ferramentas
para a evolução espiritual. Compreender como o Universo funciona é seu principal
estímulo. Santos e deuses são secundários em sua busca, pelo menos até um
determinado nível de compreensão. Não é necessário participar de alguma linha
específica de pensamento.
A
devoção é o caminho dos crentes, daqueles que procuram a experiência arrebatadora
da fé como princípio de espiritualidade. Para estes, acender uma vela e fazer
uma oração são as melhores ferramentas para evoluir. Sentir a presença de um
Ser Superior e estar integrado às forças do Universo é seu principal estímulo.
A mera abstração lógica carece de interesse em contraste com o colorido dos
estados alterados de consciência causados pela experiência religiosa, até um
certo nível de compreensão. Aqui também não é necessário participar de alguma
religião estabelecida.
Quando
corretamente orientados, ambos os caminhos conduzem ao mesmo destino, pois se
encontram em um dado momento. Portanto não existe necessariamente um correto e
outro errado, mas sim o mais adequado a cada pessoa. Ela possui grande fé ou
descrença nas Forças Superiores? Possui um raciocínio afiado e grande
intelectualidade ou prefere experimentar sensações? Veja que optar por um dos
caminhos é questão de escolha pessoal, com base em suas aptidões naturais. E
essa opção pode ser reconsiderada a qualquer momento. Pode, inclusive, optar
por estabelecer um equilíbrio entre ambas, ciente de que são partes integrantes
da mesma Verdade.
No
Taoismo, propriamente dito, existe uma convergência de interesses. Várias
práticas são utilizadas por ambas as vias, como meditação e qigong, além de
manterem profundo respeito pelo Universo e suas manifestações, sejam do mundo
visível ou do invisível. A diferença, noto novamente, fica apenas na ênfase.
Isso deixa o praticante bastante à vontade para perambular pelos meandros do
Tao, da maneira como for melhor para sua compreensão. Sempre me refiro ao
Taoismo como “a filosofia espiritualista da liberdade”.
Note
que possuir um raciocínio lógico não significa ser um cético incurável, nem
possuir um profundo sentimento religioso significa ser um místico fanático.
Ambos são extremos que devem ser evitados, pois não conduzem a nada que seja
útil. Apenas distorcem sua percepção, envenenam seu espírito e o direcionam
contra outras pessoas.
E
você? Procure descobrir suas características pessoais e se aprofunde no seu
próprio caminho. Sem medo e sem culpa.
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Gilberto
Antônio Silva é Parapsicólogo, Terapeuta e Jornalista. Como Taoista, atua
amplamente na pesquisa e divulgação desta fantástica cultura chinesa através de
cursos, palestras e artigos. É autor de 14 livros, a maioria sobre cultura
oriental e Taoismo. Sites: www.taoismo.org e www.laoshan.com.br