Por Ricardo
Gondim
Mesmo
redundante, é preciso dizer: o livre pensador pensa com liberdade. O pensador
crítico trata a fronteira do certo e do errado a partir da integridade e não da
assimilação de silogismos bem assentados. Ele permite, inclusive, que puxem o
tapete de premissas antigas. Para ser intelectual é preciso espaço para
questionar, tensionar, desafiar o que é assimilado pelos pares. Conhece-se um
intelectual como aquele que gera crise, sem necessariamente defender uma escola
de pensamento específica. Pensadores orgânicos não arrazoam com autonomia. O
bom exercício do pensar acontece despretensiosamente, já que não provoca o
debate pelo debate. Quem ousa alçar o voo do conhecimento, não teme
contradizer-se e pode, inclusive, rir de posturas que assumiu e depois suplantou.
O
livre pensador prefere a selva à trilha batida, o labirinto aos mapas
detalhados, a senda escura à avenida iluminada. Ele convive bem com a ideia de
que a verdade se alonga no infinito. Na aventura de pesquisar o que parecia
inacessível, ele encara o saber como uma galáxia, bilhões de anos luz distante.
O
livre pensador garante o ambiente leve. Ele ouve, acolhe, indaga e argumenta
com a singeleza da criança. Se discute, retruca, provoca e exige o rigor dos
mestres, não deixa o clima tenso. Se denuncia, confronta e briga com a
veemência dos profetas, não transparece rancor. Se narra, brinca, ri e cria com
a leveza dos poetas, não permite superficialidade. Se se mostra exigente nos
colóquios acadêmicos, não cria inimigos. Se relaxa na mesa do bar, mantém-se
atencioso.
O
mundo deve ao livre pensador os novos paradigmas científicos, as novas escolas
literárias, os novos conceitos políticos, as novas militâncias. Infelizmente,
muitos só foram reconhecidos depois de séculos. Alguns morreram na fogueira.
Com todos os problemas das redes sociais e da enxurrada de informações da
internet, podemos conhecer rapazes e moças que começam a pensar fora da caixa.
Leio blogs e tenho o ímpeto de cantar com Louis Armstrong: …I watch them grow/
They’ll learn much more, than I’ll never know/ And I think to myself/ What a
wonderful world (eu os vejo crescer/Eles aprenderão muito mais que eu jamais
saberei/E
eu penso comigo... que mundo maravilhoso).
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