Quando eu era moleque, era um entusiasta dos carrinhos de rolimã ou rolemã. Fiz vários, que invariavelmente quebravam na primeira, segunda, terceira ou quarta descida, quase sempre no mesmo lugar: o eixo dianteiro, sempre frágil devido a sua construção difícil... Já perdi unhas dos dedos das mãos segurando a tábua onde estava sentado rente ao chão, ou dos pés quando o carrinho passava sobre eles (muitas vezes ao ser atropelado enquanto esperava minha vez de descer após meus irmãos na parte de baixo da ladeira). Já quebrei uns tantos óculos (para desgosto de minha mãe que me deixava claro com marcas duradouras no corpo o quanto meu pai trabalhou para comprá-los...), quando por descuido num "cavalo de pau" mais ousado descendo o morro, eles, não sei como, iam parar embaixo do carrinho, sendo esmagados no processo. Eu era como o Coiote do Papa-Léguas perseguindo o design perfeito com rolemãs pequenas para dar velocidade nas descidas, riscando o chão, ou com as grandes, de caminhão, que meu pai trazia da oficina mecânica onde trabalhava e que me permitiram montar o "Carro Mamute" das rolimãs (quem não sabe o que é procura no Google, adicionando Speed Racer na procura...), utilizando grossos pedações de madeira ("pernas de três" como nós chamávamos) praticamente inteiros na sua circunferência para acomodar as rodonas. Com nosso "Carro Mamute" desciam quatro garotos de uma só vez, o de trás sempre acionando os freios (todos meus projetos tinham freios: pedaços de pau pregados pelo meio na lateral do assento, forrados com borracha preta de pneu na parte que tocavam o chão), que invariavelmente se partiam em pedaços na tentativa de parar o monstro no fim da ladeira. Testei dezenas de variações: rodas de borracha (retirada de velocípedes e outros veículos "de criança") atrás e na frente, rodas grandes com pequenas e muitas mais. E sempre quando um projeto falhava, recolhia os pedaços quebrados junto com meu orgulho e dizia para mim mesmo: "de volta à prancheta", para daí a pouco tempo ter mais um modelo novinho para ser testado. Minha variedade de veículos de rolimã só nunca foi maior do que minha quantidade de arcos feitos de todos os materiais que tinha a mão, bem como as flechas...Mas isso é para outro post... Nós descíamos uma ladeira onde também desciam carros e uma linha de ônibus que insistia em aparecer nas horas mais impróprias: bem no meio dos testes drive dos carrinhos da rapaziada da vizinhança. Meu irmão chegou a bater de cabeça no parachoque de um e acabar embaixo dele para desespero de minha mãe. Ainda bem que estava parado e só ganhou um galo na cabeça e xingamentos do motorista (com mamãe foi outra história mais dolorosa...). Hoje não vemos mais carrinhos cortando as ladeiras com aquele barulho rascante característico, nem vemos mais as riscas brancas que eles deixavam no asfalto liso ou não tão liso assim... Abaixo segue uma pequena história dos carrinhos de rolemã, um "como fazer" de um modelo que não era igual aos que eu fazia com três rodas (duas atrás e uma na frente) e sim um modelo um pouco mais "sofisticado" com quatro rodas (duas atrás e duas na frente) - Na minha infância pobre era mais fácil conseguir duas do que três rolemãs - e um vídeo que encontrei no YouTube para quem não entendeu do que eu falo ver na prática como é feito um "bólido de rolamento esfera" (só não gostei no vídeo da trilha excessivamente hardcore que acho não combinar com o conteúdo...) .
***
Não
se sabe ao certo a história do mais radical dos brinquedos das crianças da
década de 70 e 80 da região sudeste do Brasil. Pode-se dizer que os primeiros
exemplares foram construidos em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo
Horizonte, no final da décadas de 60, começo da década de 70.
O
principal material, as rodas, eram rolamentos conseguidos em oficinas de
manutenção de automóveis. As oficinas em questão davam manutenção aos carros
daquela época, os Chevrolets Belair, os Fordões 50 51, os Pontiacs os Mercuries
os Dogdes e os sofisticados Oldsmobiles, todos carros importados.
Os
rolimãs bons para fazer os carrinhos vinham da transmissão destes carrões
americanos. Mas também qualquer carro nacional também descartavam estas peças,
e oficina para consertar as antigas latas velhas que zero Kilometro já
apresentavam problemas com ruas esburacadas e falta de via apropriadas para o
trafego de veículos.
O
maior problema era conseguir as rolimãs, sem pagar nada, simplesmente pedindo e
as vezes executando pequenos serviços das oficinas, na maioria das vezes de
limpeza para obter o prêmio.
Engraçado
que carrinho de rolimã era brinquedo dos meninos mais pobres ou com menos
condições que não podiam ter uma biclicleta, mas tornou-se o pai, hoje avô dos
brinquedos radicais no Brasil.
Os
carrinhos de rolimã eram levados as ladeiras asfaltadas e que igualmente
somente se popularizaram com a urbanização das cidades igualmente na época de
60 e 70, o que novamente confirma a época aproximada do surgimento deste
brinquedo.
COMO CONSTRUIR SEU CARRINHO DE ROLIMÃ
Você
vai precisar de:
• 1 tábua de 1m x 30 cm
• 1 ripa de 80 cm x 3 cm
• 1 ripa de 60 cm x 3 cm
• 4 rolimãs
• 1 parafuso com porca
• pregos
• tinta esmalte sintético
• martelo
• serrote
• furadeira
• lixa para madeira
Serre a tábua para fazer a frente do carrinho (desenho 1).
Faça um furo na tábua e outro na ripa maior (desenho 2)
e, com uma
lâmina, arredonde as pontas das ripas na largura dos rolimãs (desenho 3).
Encaixe
os rolimãs e coloque os calços feitos com as sobras da madeira (desenho 4).
Lixe
tudo. Pinte as ripas e a tábua. Deixe secar. Pregue a ripa menor na parte de
trás da tábua (desenho 5).
Fixe
a ripa maior da parte da frente com o parafuso e a porca (desenho 6).
Teste
o seu carrinho num lugar seguro, longe de automóveis e ladeiras.
Não esqueça de
usar capacete, luvas e joelheiras.
Fonte: "Manual de Brincadeiras da Mônica" lançado pela Editora
Globo.
Retirado de: http://www.monica.com.br/revistas/brincade/rolima.htm e
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