O Judeu Errante de Gustave Doré
O
Judeu Errante, também chamado Ahsverus ou Ahsuerus, é um personagem mítico, que
faz parte das tradições orais cristãs. Tratar-se-ia de um contemporâneo de
Jesus Cristo, habitante de Jerusalém; ali, trabalhava, num cortume, ou oficina
de sapateiro, que ficava numa das ruas por onde os condenados à morte por
crucificação passavam carregando suas cruzes.
Na
Sexta-feira da Paixão, Jesus Cristo, passando por aquele mesmo caminho
carregando sua cruz, foi importunado com ironias, ou agredido verbal ou
fisicamente, pelo coureiro Ahsverus. Jesus, então, o teria amaldiçoado,
condenando-o a vagar pelo mundo, sem nunca morrer, até a sua volta, no fim dos
tempos.
As
versões do incidente são variadas. Uma delas diz que Jesus Cristo teria caído,
sob o peso da cruz, bem defronte à loja onde trabalhava Ahsverus e este,
zombando, teria gritado para o condenado que "caminhasse". Jesus
teria respondido a Ahsverus que ele, o sapateiro, é quem caminharia pelo mundo
até o fim dos tempos.
Uma
variante da versão diz que antes que Simão, o Cireneu se oferecesse para ajudar
Jesus a reerguer a cruz, Jesus teria pedido a ajuda a Ahsverus, que se
recusara.
E
uma versão diferente da lenda conta que Jesus, na verdade, teria parado diante
do cortume e pedido a Ahsverus que lhe desse uma caneca d'água. Ahsverus então
teria replicado dizendo: "se és o Filho de Deus, faça com que jorre uma
fonte de água fresca do chão" e Jesus, por isso, o amaldiçoou.
É
possível que a lenda do Judeu Errante tenha tido início no Século IV quando um
bispo da Armênia ou da Pérsia, em visita a Constantinopla ou participando do
Concílio de Nicéia, teria dito, em resposta a um incrédulo, que no seu país
ainda restava, viva, uma testemunha do martírio de Jesus Cristo.
Aí
então a imaginação popular teria se encarregado do resto, fazendo às vezes
confundir a figura com a de um funcionário de Caifás chamado Malco, com a de um
certo cidadão de Jerusalém chamado Cartáfilo ou até mesmo com Judas Iscariotes,
que teria, de alguma forma, sobrevivido ao auto-enforcamento.
Nos
primeiros tempos da expansão do islamismo houve o boato, entre os
conquistadores árabes da Síria, de que o tal Judeu Errante havia sido de fato,
encontrado em Damasco.
Séculos
mais tarde, o boato ressurgiu na Península Ibérica, onde um certo Juan
Esperendios ("espera em Deus") seria esse personagem.
Na
Itália medieval dizia-se que o Judeu Errante atendia pelo nome de Giovanni
Buttadeo ("o que bate em Deus") e na Alemanha, no século XVI, um
bispo de Hamburgo afirmou ter conhecido o Judeu Errante pessoalmente, tendo
inclusive sido publicado, anos mais tarde, o suposto diálogo do bispo com o
Judeu.
No
Brasil, algumas histórias populares afirmam que o Errante teria imigrado para
Pernambuco no tempo do domínio holandês, e que permaneceu vivendo incógnito no
Brasil; teria sido localizado, pela última vez, no norte de Minas Gerais,
quando foi visto chorando sangue diante de uma igreja num dia de Sexta-Feira da
Paixão.
A
expressão popular "onde Judas perdeu as botas" seria uma alusão ao
Judeu Errante e à sua profissão de sapateiro.
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