Por Paulo Coelho
Um guerreiro é
simples como as pombas, e prudente como as serpentes.
Quando
se reúne para conversar, não julga o comportamento dos outros; sabe que as
trevas utilizam uma rede invisível para espalhar seu mal. Esta rede pega
qualquer informação solta no ar, e a transforma na intriga e na inveja que
parasitam a alma humana. Assim, tudo que é dito a respeito de alguém sempre
termina chegando aos ouvidos dos inimigos desta pessoa, acrescido da carga
tenebrosa de veneno e maldade. Por isso, quando o guerreiro fala das atitudes
de seu irmão, imagina que ele está presente, escutando o que diz.
Os guerreiros da
luz mantém o brilho nos olhos.
Estão
no mundo, fazem parte da vida de outras pessoas. Começaram sua jornada sem
alforje e sem sandálias. Muitas vezes são covardes. Nem sempre agem certo. Os
guerreiros da luz sofrem por coisas inúteis, tem atitudes mesquinhas, e às
vezes se julgam incapazes de crescer. Frequentemente acreditam-se indignos de
qualquer benção ou milagre. Os guerreiros da luz nem sempre têm certeza do que
estão fazendo aqui. Muitas vezes passam noites em claro, achando que suas vidas
não têm sentido. Por isso são guerreiros da luz. Porque erram. Porque se perguntam.
Porque procuram uma razão – e com certeza vão encontrá-la.
Um guerreiro da
Luz nota que certos momentos se repetem.
Com
frequência se vê diante dos mesmos problemas e situações que já havia
enfrentado. Então fica deprimido. Começa a pensar que é incapaz de progredir na
vida, já que os momentos difíceis estão de volta. “Já passei por isso”, ele
reclama com seu coração. “Realmente, você já passou”, responde o coração. “Mas
nunca ultrapassou”. O guerreiro então compreende que as experiências repetidas
têm uma única finalidade: ensinar-lhe o que ainda não aprendeu. Ele passa a
procurar uma solução diferente para cada luta repetida – até que encontra a
maneira de vencê-la.
O guerreiro da
luz raramente sabe o resultado de uma batalha quando esta acaba. O movimento da
luta gerou muita energia a sua volta, e existe um momento onde tanto a vitória
como a derrota ainda são possíveis. O tempo irá dizer quem venceu ou perdeu;
mas ele sabe que, a partir daquele momento, não pode fazer mais nada: o destino
daquela luta esta nas mãos de Deus. Nestes momentos o guerreiro da luz não fica
preocupado com os resultados. Examina seu coração e pergunta: “COMBATI O BOM
COMBATE?” Se a resposta é positiva, ele descansa. Se a resposta é negativa, ele
pega a sua espada e começa a treinar de novo.”
“O guerreiro da
luz conhece uma velha expressão popular : ‘Se arrependimento matasse … ‘
E
sabe que arrependimento mata; vai lentamente corroendo a alma de quem fez algo
errado, e leva à autodestruição. O guerreiro não quer morrer desta maneira.
Quando age com perversidade ou maldade – porque é um homem cheio de defeitos –
ele não tem vergonha de pedir perdão. Se ainda é possível, usa seus esforços
para reparar o mal que fez.
Um guerreiro da
luz não se arrepende, porque arrependimento mata.
Ele
humilha-se, e conserta o mal que causo.
O guerreiro da
luz medita.
Senta-se
em um lugar tranquilo da sua tenda, e entrega-se à luz divina. Ao fazer isto,
procura não pensar em nada; desliga-se da busca de prazeres, dos desafios e das
revelações- e deixa que seus dons e poderes se manifestem. Mesmo que não os
perceba na mesma hora, estes dons e poderes estão tomando conta de sua vida, e
vão influir no seu cotidiano. Enquanto medita, o guerreiro não é ele, mas uma
centelha da alma do mundo. São estes momentos que lhe permitem entender sua
responsabilidade, e agir de acordo com ela.
Um guerreiro da
luz sabe que- no silêncio do seu coração, existe uma ordem que o orienta.
“É
curioso… Comenta o guerreiro da luz: “Encontrei tanta gente que – na primeira
oportunidade tenta mostrar o pior de si. Esconde a força interior através da
agressividade; disfarça o medo da solidão com o ar da independência. Não
acredita na própria capacidade, mas vive pregando aos quatro ventos suas
virtudes. O guerreiro da luz lê esta mensagem em muitos homens e mulheres que
conhece. Nunca se deixa enganar pelas aparências e faz questão de permanecer em
silêncio quando tentam impressioná-lo. Mas usa a ocasião para corrigir suas
próprias falhas – já que as pessoas são sempre um bom espelho.
Um guerreiro
aproveita toda e qualquer oportunidade para ensinar a si mesmo.
Caminhos
e escolhas Todos os caminhos do mundo levam ao coração do guerreiro; ele
mergulha sem hesitar no rio de paixões que sempre corre em sua vida. O
guerreiro sabe que é livre para escolher o que desejar; suas decisões são
tomadas com coragem, desprendimento, e – as vezes – com certa dose de loucura. Aceita
suas paixões e as desfruta intensamente. Sabe que não é preciso renunciar ao
entusiasmo das conquistas; elas fazem parte da vida e alegra a todos que delas
participam. Mas jamais perde de vista as coisas duradouras, e os laços criados
com solidez através do tempo.
Um guerreiro
sabe distinguir o que é passageiro, e o que é definitivo.
O treinamento e
o combate:
Um
guerreiro da luz não conta apenas com as suas forças; usa também a energia do
seu adversário. Ao iniciar o combate, tudo que ele possui é o seu entusiasmo, e
os golpes que aprendeu enquanto treinava; à medida que a luta avança, descobre
que o entusiasmo e o treinamento não são suficientes para vencer: é preciso experiência.
Então ele abre seu coração para o Universo, e pede a Deus para inspira-lo, de
modo que cada golpe do inimigo seja também uma lição de defesa para ele. Os
companheiros comentam: “como é supersticioso. Parou a luta para rezar, e
respeita os truques do adversário”. O guerreiro não responde a estas
provocações. Sabe que, sem inspiração e experiência, não ha treinamento que de
resultado. ”
A estratégia:
O
guerreiro da luz jamais trapaceia; mas sabe distrair seu adversário. Por mais
ansioso que esteja, joga com os recursos da estratégia para atingir seu
objetivo. Quando percebe que esta no fim de suas forças, faz com que o inimigo
pense que não tem pressa. Quando precisa atacar o lado direito, move suas
tropas para o esquerdo. Se pretende iniciar a luta imediatamente, finge que
esta com sono e prepara-se para dormir. Os amigos comentam: “veja como perdeu
seu entusiasmo”. Mas ele não dá importância aos comentários, porque os amigos não
conhecem suas táticas de combate.
Um guerreiro da
luz sabe o que quer.
Ele
não precisa ficar explicando.
O guerreiro da
luz está sempre vigilante.
Não
pede permissão aos outros para segurar sua espada; simplesmente a toma em suas
mãos. Tampouco perde tempo explicando seus gestos; fiel às determinações de
Deus, ele responde pelo que faz. Olha para os lados e identifica seus amigos.
Olha para trás e identifica seus adversários. É implacável com a traição, mas
não se vinga; apenas afasta os inimigos de sua vida, sem lutar com eles além do
tempo necessário.
Um
guerreiro não tenta parecer, ele é.
Existem dois
tipos de prece…
O
primeiro tipo é aquele onde se pede que determinadas coisas aconteçam, tentando
dizer a Deus o que Ele deve fazer. Não se dá tempo, nem espaço para o Criador
atuar. Deus – que sabe muito bem o que é melhor para cada um – vai continuar
agindo com Lhe convém. E aquele que reza fica com a sensação de que não foi
ouvido.
O
segundo tipo de prece é aquele em que, mesmo sem compreender o caminhos do
Alto, o homem deixa que se cumpram em sua vida os desígnios do Criador. Pede
para ser poupado do sofrimento, pede alegria no Bom Combate, mas não esquece de
dizer em nenhum momento: “Seja feita a Vossa vontade”. O guerreiro da luz reza
desta segunda maneira.
0 comentários:
Postar um comentário