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terça-feira, 29 de maio de 2012

Manual do Guerreiro da Luz


Por Paulo Coelho
Um guerreiro é simples como as pombas, e prudente como as serpentes.
Quando se reúne para conversar, não julga o comportamento dos outros; sabe que as trevas utilizam uma rede invisível para espalhar seu mal. Esta rede pega qualquer informação solta no ar, e a transforma na intriga e na inveja que parasitam a alma humana. Assim, tudo que é dito a respeito de alguém sempre termina chegando aos ouvidos dos inimigos desta pessoa, acrescido da carga tenebrosa de veneno e maldade. Por isso, quando o guerreiro fala das atitudes de seu irmão, imagina que ele está presente, escutando o que diz.

Os guerreiros da luz mantém o brilho nos olhos.
Estão no mundo, fazem parte da vida de outras pessoas. Começaram sua jornada sem alforje e sem sandálias. Muitas vezes são covardes. Nem sempre agem certo. Os guerreiros da luz sofrem por coisas inúteis, tem atitudes mesquinhas, e às vezes se julgam incapazes de crescer. Frequentemente acreditam-se indignos de qualquer benção ou milagre. Os guerreiros da luz nem sempre têm certeza do que estão fazendo aqui. Muitas vezes passam noites em claro, achando que suas vidas não têm sentido. Por isso são guerreiros da luz. Porque erram. Porque se perguntam. Porque procuram uma razão – e com certeza vão encontrá-la.

Um guerreiro da Luz nota que certos momentos se repetem.
Com frequência se vê diante dos mesmos problemas e situações que já havia enfrentado. Então fica deprimido. Começa a pensar que é incapaz de progredir na vida, já que os momentos difíceis estão de volta. “Já passei por isso”, ele reclama com seu coração. “Realmente, você já passou”, responde o coração. “Mas nunca ultrapassou”. O guerreiro então compreende que as experiências repetidas têm uma única finalidade: ensinar-lhe o que ainda não aprendeu. Ele passa a procurar uma solução diferente para cada luta repetida – até que encontra a maneira de vencê-la.

O guerreiro da luz raramente sabe o resultado de uma batalha quando esta acaba. O movimento da luta gerou muita energia a sua volta, e existe um momento onde tanto a vitória como a derrota ainda são possíveis. O tempo irá dizer quem venceu ou perdeu; mas ele sabe que, a partir daquele momento, não pode fazer mais nada: o destino daquela luta esta nas mãos de Deus. Nestes momentos o guerreiro da luz não fica preocupado com os resultados. Examina seu coração e pergunta: “COMBATI O BOM COMBATE?” Se a resposta é positiva, ele descansa. Se a resposta é negativa, ele pega a sua espada e começa a treinar de novo.”

“O guerreiro da luz conhece uma velha expressão popular : ‘Se arrependimento matasse … ‘
E sabe que arrependimento mata; vai lentamente corroendo a alma de quem fez algo errado, e leva à autodestruição. O guerreiro não quer morrer desta maneira. Quando age com perversidade ou maldade – porque é um homem cheio de defeitos – ele não tem vergonha de pedir perdão. Se ainda é possível, usa seus esforços para reparar o mal que fez.

Um guerreiro da luz não se arrepende, porque arrependimento mata.
Ele humilha-se, e conserta o mal que causo.

O guerreiro da luz medita.
Senta-se em um lugar tranquilo da sua tenda, e entrega-se à luz divina. Ao fazer isto, procura não pensar em nada; desliga-se da busca de prazeres, dos desafios e das revelações- e deixa que seus dons e poderes se manifestem. Mesmo que não os perceba na mesma hora, estes dons e poderes estão tomando conta de sua vida, e vão influir no seu cotidiano. Enquanto medita, o guerreiro não é ele, mas uma centelha da alma do mundo. São estes momentos que lhe permitem entender sua responsabilidade, e agir de acordo com ela.

Um guerreiro da luz sabe que- no silêncio do seu coração, existe uma ordem que o orienta.
“É curioso… Comenta o guerreiro da luz: “Encontrei tanta gente que – na primeira oportunidade tenta mostrar o pior de si. Esconde a força interior através da agressividade; disfarça o medo da solidão com o ar da independência. Não acredita na própria capacidade, mas vive pregando aos quatro ventos suas virtudes. O guerreiro da luz lê esta mensagem em muitos homens e mulheres que conhece. Nunca se deixa enganar pelas aparências e faz questão de permanecer em silêncio quando tentam impressioná-lo. Mas usa a ocasião para corrigir suas próprias falhas – já que as pessoas são sempre um bom espelho.

Um guerreiro aproveita toda e qualquer oportunidade para ensinar a si mesmo.
Caminhos e escolhas Todos os caminhos do mundo levam ao coração do guerreiro; ele mergulha sem hesitar no rio de paixões que sempre corre em sua vida. O guerreiro sabe que é livre para escolher o que desejar; suas decisões são tomadas com coragem, desprendimento, e – as vezes – com certa dose de loucura. Aceita suas paixões e as desfruta intensamente. Sabe que não é preciso renunciar ao entusiasmo das conquistas; elas fazem parte da vida e alegra a todos que delas participam. Mas jamais perde de vista as coisas duradouras, e os laços criados com solidez através do tempo.

Um guerreiro sabe distinguir o que é passageiro, e o que é definitivo.

O treinamento e o combate:
Um guerreiro da luz não conta apenas com as suas forças; usa também a energia do seu adversário. Ao iniciar o combate, tudo que ele possui é o seu entusiasmo, e os golpes que aprendeu enquanto treinava; à medida que a luta avança, descobre que o entusiasmo e o treinamento não são suficientes para vencer: é preciso experiência. Então ele abre seu coração para o Universo, e pede a Deus para inspira-lo, de modo que cada golpe do inimigo seja também uma lição de defesa para ele. Os companheiros comentam: “como é supersticioso. Parou a luta para rezar, e respeita os truques do adversário”. O guerreiro não responde a estas provocações. Sabe que, sem inspiração e experiência, não ha treinamento que de resultado. ”

A estratégia:
O guerreiro da luz jamais trapaceia; mas sabe distrair seu adversário. Por mais ansioso que esteja, joga com os recursos da estratégia para atingir seu objetivo. Quando percebe que esta no fim de suas forças, faz com que o inimigo pense que não tem pressa. Quando precisa atacar o lado direito, move suas tropas para o esquerdo. Se pretende iniciar a luta imediatamente, finge que esta com sono e prepara-se para dormir. Os amigos comentam: “veja como perdeu seu entusiasmo”. Mas ele não dá importância aos comentários, porque os amigos não conhecem suas táticas de combate.
Um guerreiro da luz sabe o que quer.
Ele não precisa ficar explicando.

O guerreiro da luz está sempre vigilante.
Não pede permissão aos outros para segurar sua espada; simplesmente a toma em suas mãos. Tampouco perde tempo explicando seus gestos; fiel às determinações de Deus, ele responde pelo que faz. Olha para os lados e identifica seus amigos. Olha para trás e identifica seus adversários. É implacável com a traição, mas não se vinga; apenas afasta os inimigos de sua vida, sem lutar com eles além do tempo necessário.
Um guerreiro não tenta parecer, ele é.

Existem dois tipos de prece…
O primeiro tipo é aquele onde se pede que determinadas coisas aconteçam, tentando dizer a Deus o que Ele deve fazer. Não se dá tempo, nem espaço para o Criador atuar. Deus – que sabe muito bem o que é melhor para cada um – vai continuar agindo com Lhe convém. E aquele que reza fica com a sensação de que não foi ouvido.

O segundo tipo de prece é aquele em que, mesmo sem compreender o caminhos do Alto, o homem deixa que se cumpram em sua vida os desígnios do Criador. Pede para ser poupado do sofrimento, pede alegria no Bom Combate, mas não esquece de dizer em nenhum momento: “Seja feita a Vossa vontade”. O guerreiro da luz reza desta segunda maneira.

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