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sexta-feira, 21 de outubro de 2011

O I Ching


O Que É
O Livro das Mutações é considerado como uma das obras mais antigas editadas pela humanidade, com idade entre 4000 e 5000 anos. Embora a versão escrita tenha sido ampliada com comentários em séculos posteriores, os fundamentos filosóficos originais desta obra magistral se perdem no tempo.
Sua unidade básica é formada por duas linhas: uma completa e outra interrompida. A linha completa simboliza o Yang, enquanto que a outra representa o Yin. Yin e Yang são as duas “polaridades” complementares que fundamentam todo o Universo.


Yang
Yin
Essas “forças” estão agrupadas em três linhas que formam o chamado trigrama (kua, em chinês). Nesse trigrama a linha superior representa o Céu, a inferior a Terra e a linha central, o Homem. Isso demonstra os princípios mais elementares do taoísmo, onde tudo é formado por Yin e Yang, sendo que o homem se situa entre o Céu e a Terra, forças básicas que regem nossa vida.
Ao variarmos a posição e o tipo de linhas, encontramos oito trigramas possíveis que formam o Pa (oito) Kua (trigrama, símbolo).
Para a montagem do I Ching, que representa todas as leis do Universo, os trigramas tiveram que ser agrupados em diagramas mais complexos. Tomados dois a dois, originaram os hexagramas, formados por seis linhas. Oito trigramas tomados dois a dois perfazem um total de sessenta e quatro hexagramas possíveis. Esses sessenta e quatro símbolos constituem o núcleo principal do I Ching.
Exemplo de Hexagrama
Posteriormente o I Ching recebeu os textos conhecidos como “julgamentos”, atribuídos ao Rei Wen, bem como os textos que comentam cada linha do hexagrama, atribuídas ao Duque de Chou. Esses textos foram introduzidos à guisa de melhorar a compreensão dos complicados simbolismos de cada hexagrama. Por volta do século IV a.C. o Livro das Mutações recebeu sua última inclusão na forma de comentários feitos por Confúcio, considerado um dos maiores estudiosos do I Ching de todos os tempos.
O Livro das Mutações é peça fundamental na construção de toda a cultura chinesa. Desde as artes até a estratégia militar e filosofia possuem um leve sabor do I Ching. Supõe-se que a Arte da Guerra e o Tao Te Ching, por exemplo, tenham sido inspirados pelos ensinamentos do I Ching. Sua influência nas artes é notória pela quantidade de vasos e móveis que seguem formas octogonais com trigramas estampados.
História do I Ching
Podemos classificar a história do I Ching em três fases distintas:
I [Yi] 
Chou I [Zhou Yi]
I Ching [Yi Jing]

I [Yi] (antiguidade-1027 a.C.)
Essa fase mostra a transição dos velhos rituais xamânicos em sistemas filosóficos mais elaborados. Uma das grandes contribuições desse período está na criação dos Kua, os conhecidos trigramas e hexagramas, pelo sábio Fu Xi.
O célebre Imperador Fu Xi (Fu Hsi), a quem se atribui a criação do Pa Kua, também é reconhecido como o criador do Mapa do Rio, conhecido em chinês como Ho Tu.

Fu Xi é um dos três primeiros imperadores míticos, antecessor de Huang Ti (O Imperador Amarelo) e o iniciador da civilização chinesa e do I Ching. Fu Xi teria vivido ao redor de 2800 a.C. e teria governado por mais de 100 anos. A ele se atribui também a invenção da rede de pescar, a criação do bicho-da-seda, a domesticação de animais, a música e a base da escrita chinesa. Também foi Fu Xi quem criou os diferentes nomes de família e instituiu que os casamentos deveriam ocorrer entre famílias diferentes. Muitas vezes Fu Xi é representado como meio homem meio cobra ao lado de sua esposa, Nu Gua.
Nessa época, o I Ching não possui qualquer texto, mas suas leituras eram retiradas diretamente dos desenhos de linhas, trigramas e hexagramas
Chou I [Zhou Yi] (1027 a.C.-400 a.C.)
No final da Dinastia Shang (1700-1027 a.C.), a tirania imperava por toda a China. Um homem de grande saber se levantou contra o último tirano Shang e acabou conhecido como Wen Wang (Rei Wen). Devido às suas críticas ao sistema existente, Wen foi condenado à prisão onde ficou por dois anos. Em sua cela, com todo o tempo do mundo ao seu dispor, colocou-se na difícil tarefa de explicar o antigo I através de textos que definissem suas qualidades básicas. Tais textos passaram à ser conhecidos no Ocidente como “julgamentos” e explicam o hexagrama de modo geral. Após sua libertação e a queda da dinastia anterior, seu filho, conhecido como Duque de Chou e fundador da Dinastia Chou, aperfeiçoou o trabalho de seu pai incorporando textos explicativos sobre cada uma das seis linhas que compõe cada um dos 64 hexagramas, conhecidas hoje como “textos das linhas”. É esse conjunto, hexagrama-julgamento-textos das linhas que compõe a estrutura do I Ching, chamado nessa época de Chou I (Mutações dos Chou).
I Ching [Yi Jing] (400 a.C. – hoje)
Confúcio (551-479 a.C.) foi um grande apaixonado pelo estudo do Chou I, reservando a ele um lugar de destaque entre seus Cinco Clássicos. Chegou a afirmar que, se dispusesse de mais 50 anos de vida, os dedicaria integralmente ao estudo desta obra imortal!
Confúcio escreveu centenas de comentários, principalmente a “imagem”, que ilustra o significado do Hexagrama, e as “pequenas imagens”, comentários sobre cada texto de cada linha. Existem ainda outros textos comentando o Chou I atribuídos ao sábio chinês, conhecidos como “As Dez Asas”. Entretanto, pesquisadores divergem da veracidade histórica desses trabalhos, atribuindo sua autoria a discípulos confucianos de épocas posteriores.
Ao conjunto dos textos antigos do Chou I, acrescidos dos textos das imagens escritas por Confúcio, deu-se o nome de I Ching (Clássico das Mutações), por estar inserido na revisão confuciana de antigos textos chineses conhecidos como “Clássicos”. Note-se que essa denominação é muito posterior à morte do filósofo.
Na China, ainda hoje essa obra é mais conhecida popularmente como Chou I, sendo I Ching um termo mais usado no Ocidente.
Oráculo
O I Ching pode ser usado de modo oracular. Essa função difere grandemente de outros métodos como Tarô, Runas, Cartomancia, Jogo de Búzios e Quiromancia, pois não pretende “prever o futuro”, mas indicar aonde se poderia chegar à partir de uma dada situação atual ou próxima. Ele mais “aconselha” do que “prevê”, mostrando os fatores que estão influindo na situação consultada.
Suas respostas cheias de significado, muitas vezes são tomadas com surpresa pelo praticante, tamanha a vivacidade de suas afirmações. Não raro os consulentes tem a impressão de ser algo vivo que está a explicar a situação.
Existem muitas interpretações diferentes para a forma de agir do I Ching. C.G. Jung acreditava que o I Ching colocava o consulente em contato com arquétipos de sabedoria, daí as respostas virem do Inconsciente Coletivo através da Sincronicidade. Outros crêem que a estrutura matemática e binária do I Ching funcione de maneira absolutamente lógica, como se fosse um computador primitivo. Dessa forma, desdenham qualquer crença relacionado ao seu funcionamento, considerado por eles como “científico”. Outros, mais exaltados, acreditam que antigos espíritos induzem a queda das moedas ou o jogo de varetas, levando-os a encontrar a resposta correta. A verdade provavelmente está em algum lugar entre as colocações anteriores, nem muito “científico” e nem muito “místico”.
Livro de Sabedoria
O I Ching também pode ser utilizado como livro de sabedoria, para estudo filosófico. Seus textos estão carregados com o que existiu de mais expressivo na cultura chinesa antiga e pode ser lido como se fosse um livro filosófico normal. Muitas pessoas desdenham a parte oracular, afirmando ser o I Ching um manancial de sabedoria. Mas a verdadeira sabedoria possui muitas faces, daí ser tão importante estudar sua sabedoria como usá-lo em questões mais práticas.
O Livro das Mutações possui raízes muito fortes no Taoísmo, sendo portanto um veículo importante para o estudo, a compreensão e a utilização prática dos princípios taoístas. Muitas das artes taoístas foram influenciadas ou baseadas nessa obra, como o Kung Fu Pa Kua Chang e a Alquimia Taoísta, por exemplo.
Mas para se estudar o I Ching de modo taoísta, é importante que observemos que os comentários são atribuídos a Confúcio e outros sábios. O núcleo principal, formado pelos hexagramas e suas linhas, é que é o verdadeiro cabedal de sabedoria taoísta, explicado de maneira muito concisa por Wen Wang e o Duque de Chou. É comum as pessoas tomarem os comentários pelo texto principal, chegando inclusive a afirmar que o I Ching é um “livro de regras morais”, quando o Taoísmo é uma filosofia amoral. A função do livro nunca foi indicar o caminho correto a ninguém, mas tão somente mostrar várias abordagens do problema e deixar o consulente tomar sua própria decisão, de acordo com sua formação moral ou sua índole, sem influenciá-lo. O Livre Arbítrio em sua forma mais antiga!

Gilberto Antônio Silva é Parapsicólogo, Acupuntor, Terapeuta e Escritor, estudando cultura e filosofia oriental desde 1977. Como Taoísta, se preocupa em divulgar a filosofia e as artes taoístas, como I Ching, Feng Shui e Qigong, para melhoria da qualidade de vida das pessoas. 

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