Na lógica e na retórica, uma falácia é um argumento logicamente inconsistente, sem fundamento, inválido ou falho na capacidade de provar eficazmente o que alega. Argumentos que se destinam à persuasão podem parecer convincentes para grande parte do público apesar de conterem falácias, mas não deixam de ser falsos por causa disso.
Reconhecer as falácias é por vezes difícil. Os argumentos falaciosos podem ter validade emocional, íntima, psicológica ou emotiva, mas não validade lógica. É importante conhecer os tipos de falácia para evitar armadilhas lógicas na própria argumentação e para analisar a argumentação alheia.
É importante observar que o simples fato de alguém cometer uma falácia não invalida sua argumentação. Ninguém pode dizer: "Li um livro de Rousseau, mas ele cometeu uma falácia, então todo o seu pensamento deve estar errado".
A falácia invalida imediatamente o argumento no qual ela ocorre, o que significa que só este argumento específico será descartado da argumentação, mas pode haver outros argumentos que tenham sucesso. Por exemplo, se alguém diz:
"O fogo é quente e sei disto por dois motivos: 1. Ele é vermelho e, 2. Medi sua temperatura com um termômetro".
Neste exemplo, foi de fato comprovado que o fogo é quente por meio do argumento 2. O argumento 1 deve ser descartado como falacioso, mas a argumentação não está de todo destruída.
Tipologia das falácias com exemplos para o leitor saber identificar e se precaver.
Acentuação
É uma forma de falácia devido à mudança de significado pela entonação. O significado é mudado dependendo da ênfase das palavras.
Ex: compare: "Não devemos falar MAL dos nossos amigos." com: "Não devemos falar mal dos nossos AMIGOS".
Acidente
Quando considera-se essencial o que é apenas acidental.
Ex: "A maior parte dos políticos são corruptos. Então a política é corrupta."
Afirmação do Consequente
A sua forma categórica é:
* Se A então B.
* B Então A.
Ex: "Se há carros então há poluição. Há poluição. Logo, há carros."
Apelo à autoridade anônima
Fazer afirmações recorrendo a autoridades sem citar a fonte.
Ex: "Os peritos dizem que a melhor maneira de prevenir uma guerra nuclear é estar preparado para ela."
Apelo à emoção
Recorrer à emoção para validar o argumento.
Ex: "Apelo ao júri para que contemple a condição do réu. Um homem sofrido que agora passa pelo transtorno de ser julgado em tribunal."
Apelo à novidade
Argumentar que o novo é sempre melhor.
Ex: "Na filosofia, Sócrates já está ultrapassado. É melhor Sartre, pois é mais recente."
Apelo à vaidade
Provocar a vaidade do oponente para vencê-lo.
Ex: "Não acredito que uma pessoa culta como você acredita nesta teoria."
Apelo ao preconceito
Associar valores morais a uma pessoa ou coisa para convencer o adversário.
Ex: "Uma pessoa religiosa como você não é capaz de argumentar racionalmente comigo."
Apelo ao ridículo
Ridicularizar um argumento como forma de derrubá-lo.
Ex: "Se a teoria da evolução fosse verdadeira, significaria que o seu tataravô seria um gorila!"
"Realmente acreditas em Adão e Eva? É apenas mais uma lenda de um conjunto de mitos antigos, sem fundamento, escritas por homens ignorantes e machistas."
Argumento de antiguidade ou tradição
Afirmar que algo é verdadeiro ou bom porque é antigo ou "sempre foi assim".
Ex: "Se o meu avô diz que Garrincha foi melhor que Pelé, deve ser verdade."
Apelo à força
Utilização de algum tipo de privilégio, força, poder ou ameaça para impor a conclusão.
Ex: "Acredite no que eu digo; não se esqueça de quem é que paga o seu salário."
Argumentum ad consequentiam
Considerar uma premissa verdadeira ou falsa conforme sua consequência desejada.
Ex: "Se Deus existe, então temos direito à vida eterna. Cobiçamos a vida eterna. Então Deus existe."
"Se Deus não existe, não precisamos temer punições no pós-vida. Não cobiçamos penas no pós-vida. Então Deus não existe."
Argumentum ad hominem (Ataque ao argumentador)
Em vez de o argumentador provar a falsidade do enunciado, ele ataca a pessoa que fez o enunciado.
Ex: "Se foi um burguês quem disse isso, certamente é engodo".
Argumentum ad ignorantiam
Tentar provar algo a partir da ignorância quanto à sua validade.
Ex: "Ninguém conseguiu provar que Deus não existe; logo, ele existe."
Argumentum ad lapidem
Desqualificar uma afirmação como absurda.
Ex: "João, ministro da educação, é acusado de corrupção e defende-se dizendo: 'Esta acusação é um disparate'".
Argumentum ad Lazarum
Oposto ao "ad Crumenam". Esta é a falácia de assumir que apenas porque alguém é mais pobre, então é mais virtuoso e verdadeiro.
Ex: "Joãozinho é pobre e deve ter sofrido muito na vida. Se ele diz que isso é uma cilada, eu acredito."
Argumentum ad metum
Apelar ao medo para validar o argumento.
Ex: "Vote no candidato tal, pois o candidato adversário vai trazer a ditadura de volta."
Argumento baseado na compaixão
Consiste no recurso à piedade ou a sentimentos relacionados, tais como solidariedade e compaixão, para que a conclusão seja aceita, embora a piedade não esteja relacionada com o assunto ou com a conclusão do argumento.
Do argumento ad misericordiam deriva o argumentum ad infantium ("Faça isso pelas crianças".) A emoção é usada para persuadir as pessoas a apoiar (ou intimidá-las a rejeitar) um argumento com base na emoção, mais do que em evidências ou razões.
Argumentum ad nauseam
É a aplicação da repetição constante e a crença incorreta de que quanto mais se diz algo, mais correto está.
Ex: "Se Joãozinho diz tanto que sua ex-namorada é uma mentirosa, então ela é."
Apelo ao povo
É a tentativa de ganhar a causa por apelar a uma grande quantidade de pessoas.
Ex: "Inúmeras pessoas acreditam em Deus; portanto Deus existe."
Argumentum ad temperantiam
Recorrer ao meio-termo.
Ex: "Não temos relógio, mas alguns estão dizendo que são dez horas e outros dizem que são seis horas, então é mais acertado supor que são oito horas."
Apelo à autoridade
Argumentação baseada no apelo a alguma autoridade reconhecida para comprovar a premissa.
Ex: "Se Aristóteles disse isto, então é verdade."
Prova por verbosidade
Tentativa de esmagar os envolvidos pelo discurso prolixo, apresentando um enorme volume de material: superficialmente o argumento parece plausível e bem pesquisado, mas é tão trabalhoso desembaraçar e verificar cada fato comprobatório, que pode acabar por ser aceite sem ser contestado.
Bola de neve
Elaborar uma sucessão de conclusões que conduzem ao absurdo.
Ex: "Se aprovarmos leis contra as armas automáticas, não demorará muito até aprovarmos leis contra todas as armas e então começaremos a restringir todos os nossos direitos. Acabaremos por viver num estado totalitário. Portanto não devemos banir as armas automáticas."
Bulverismo
Argumentar partindo do pressuposto de que o oponente já está comprovadamente errado.
Ex: "Você está dizendo que a Bíblia é correta? Nem vou discutir com você, parei. Sabemos que a ciência comprovadamente explica tudo corretamente."
"Se você não acredita que a Bíblia é infalível já perdeu o argumento, pois é óbvio que ela é."
Causa complexa
Supervalorizar uma causa quando há várias, ou um sistema de causas.
Ex: "O acidente não teria ocorrido se não fosse a má localização do arbusto."
Causa diminuta
Apontar uma causa irrelevante.
Ex: "Fumar causa a poluição do ar em Edmonton." (A causa maior é a poluição industrial e dos automóveis)
Complexo do pombo enxadrista
Proclamar vitória, dando a entender que venceu a discussão, sem ter conseguido realmente apresentar bons argumentos.(é como diz o ditado: "Discutir com um idiota é a mesma coisa que jogar xadrez com um pombo. Ele caga no tabuleiro, derruba as peças e sai voando cantando vitória.")
Conclusão irrelevante
Obter uma conclusão que nem todos concordam.
Ex: "A lei deve estipular um sistema de cotas nas eleições para que as mulheres possam ocupar mais cargos políticos. Os cargos são dominados por homens e não fazer algo para mudar essa situação é inaceitável. Necessitamos de uma sociedade mais igualitária."
Falsa causa
Afirma que apenas porque dois eventos ocorreram juntos eles estão relacionados.
Ex: "Nota-se uma maior frequência de erros de português em sala de aula desde o início das redes sociais e o uso do internetês. O advento das redes sociais vem degenerando o uso do português correto."
Definição circular
Definir um termo usando o próprio termo que está sendo definido.
Ex: "A Bíblia é a Palavra de Deus porque ela diz que é."
Definição obscura
Definir algo em termos imprecisos ou incompreensíveis.
Ex: "Vida é a borboleta sublime que bate suas asas dentro de nós."
Deus das lacunas
Responder questões sem solução com explicações sobrenaturais e/ou que não podem ser comprovadas.
Dicto simpliciter (regra geral)
Ocorre quando uma regra geral é aplicada a um caso particular onde a regra não deveria ser aplicada.
Ex: "Se você matou alguém, deve ir para a cadeia." (não se aplica a certos casos)
Equívoco
Usar uma afirmação com significado diferente do que seria apropriado ao contexto.
Ex: "Os assassinos de crianças são desumanos. Portanto, os humanos não matam crianças".
Estilo sem substância
Validar um argumento por sua beleza estética.
Ex: "Trudeau sabe dirigir as massas. Ele deve ter razão."
Evidência anedótica
Apresentar uma evidência sob a forma de anedota.
Explicação incompleta
Ex: "As pessoas tornam-se esquizofrênicas porque as diferentes partes dos seus cérebros funcionam separadas."
Explicação superficial
Usar classificações para tirar conclusões.
Ex: "A minha gata gosta de atum porque é uma gata."
Falácia da divisão (tomar a parte pelo todo)
Oposto da falácia de composição. Supõe que uma propriedade do todo é aplicada a cada parte. Ex: "Você deve ser rico, pois estuda em um colégio de ricos."
Falácia de composição (tomar o todo pela parte)
É o fato de concluir que uma propriedade das partes deve ser aplicada ao todo.
Ex: "Todas as peças deste caminhão são leves; logo, o caminhão é leve."
Falácia do espantalho
Consiste em criar ideias reprováveis ou fracas, atribuindo-as à posição oposta.
Ex: "Meu adversário, por ser de um partido de esquerda, é a favor do comunismo radical, e quer retirar todas as suas posses, além de ocupar as suas casas com pessoas que você não conhece."
Falácia genética
Consiste em aprovar ou desaprovar algo baseando-se unicamente em sua origem.
Ex: "Você gosta de chocolate porque seu antepassado do século XVIII também gostava."
Conclusão sofismática
Ocorrem dois fatos. São colocados como similares por serem derivados ou similares a um terceiro fato.
Ex: "O Islamismo é baseado na fé."
"O Cristianismo é baseado na fé."
"Logo o islamismo é similar ao cristianismo."
Falsa dicotomia
Ocorre quando alguém apresenta uma situação com apenas duas alternativas, quando de fato outras alternativas existem ou podem existir.
Ex: "Se você não está a favor de mim então está contra mim."
Generalização apressada (falsa indução)
Ocorre quando uma regra específica é atribuída ao caso genérico.
Ex: "Minha namorada me traiu. Logo, as mulheres tendem à traição."
Falácia da conclusão irrelevante
Consiste em utilizar argumentos que podem ser válidos para chegar a uma conclusão que não tem relação alguma com os argumentos utilizados.
Ex: "Os astronautas do Projeto Apollo eram bem preparados, todos eram excelentes aviadores e tinham boa formação acadêmica e intelectual, além de apresentar boas condições físicas. Logo, foi um processo natural os EUA ganharem a corrida espacial contra a União Soviética pois o povo americano é superior ao povo russo."
Inconsistência
Construir um raciocínio com premissas contraditórias.
Ex: "John é maior do que Jake e Jake é maior do que Fred, enquanto Fred é maior do que John."
Invenção de fatos
Consiste em mentir ou formular informações imprecisas.
Ex: "A causa da gripe é o consumo de arroz."
Inversão de causa e efeito
Considerar um efeito como uma causa.
Ex: "A propagação da SIDA foi provocada pela educação sexual."
Inversão do acidente
Tomar uma exceção como regra.
Ex: "Se deixarmos os doentes terminais usarem heroína, devemos deixar todos usá-la."
Inversão do ônus da prova
Quando o argumentador transfere ao seu opositor a responsabilidade de comprovar o argumento contrário, eximindo-se de provar a base do seu argumento.
Ex: "Dragões existem, porque ninguém conseguiu provar que eles não existem."
Também pode ser utilizado para afirmações negativas, como segue: "Dragões não existem, porque ninguém conseguiu provar que eles existem."
Negação do antecedente
Se A então B. Não A. Então não B.
Ex: "Se há carros então há poluição. Não há carros. Logo, não há poluição."
Non sequitur (Não segue)
Tipo de falácia na qual a conclusão não se sustenta nas premissas. Há uma violação da coerência textual.
Ex: "Que nome complicado tem este futebolista. Deve jogar muita bola!"
Pergunta complexa
Insinuação por meio de pergunta.
Ex: "Apóias a liberdade e o direito de andar armado?"
Petitio principii
Demonstrar uma tese partindo do princípio de que já é válida.
Ex: "É fato que a Bíblia é infalível, portanto todos devem buscar nela a verdade."
Plurium Interrogationum
Ocorre quando se exige uma resposta simples a uma questão complexa.
Ex: "O que faremos com esse criminoso? Matar ou prender?"
Post hoc ergo propter hoc
Consiste em dizer que, pelo simples fato de um evento ter ocorrido logo após o outro, eles têm uma relação de causa e efeito. Porém,correlação não implica causalidade.
Ex: "O Japão rendeu-se logo após a utilização das bombas atômicas por parte dos EUA. Portanto, a paz foi alcançada devido à utilização das armas nucleares."
Red Herring
Falácia cometida quando material irrelevante é introduzido no assunto discutido para desviar a atenção e chegar a uma conclusão diferente.
Ex: "Será que o palhaço é o assassino? No ano passado um palhaço matou uma criança."
Reductio ad absurdum
Consiste em averiguar uma hipótese, chegando a um resultado absurdo, para depois tentar invalidar esta hipótese.
Reductio ad Hitlerum
Invalidar um argumento pela comparação com Hitler ou o nazismo.
Ex: "Hitler acreditava em Deus, então os crentes não devem ser boas pessoas."
Teoria irrefutável
Informar um argumento que não pode ser testado.
Ex: "Ganhei na loteria porque estava escrito no livro do destino."
Terceira causa
Ignorar a existência de uma terceira causa não levada em conta nas premissas.
Ex: "Estamos vivendo uma fase de elevado desemprego, que é provocado por por um baixo consumo."
Você também
Falácia do "mas você também". Ocorre quando uma ação se torna aceitável pois outra pessoa também a cometeu.
Ex: "Você está sendo abusivo."
"E daí? Você também está."
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