TROCANDO
SEIS POR MEIA DÚZIA
Por Jansen Viana
Na
recepção dum salão de convenções, em Fortaleza:
-
Por favor, gostaria de fazer minha inscrição no Congresso.
-
Pelo seu sotaque vejo que o senhor não é brasileiro. O senhor é de onde?
-
Sou de Maputo, Moçambique.
-
Da África, né?
-
Sim, sim, da África.
-
Aqui está cheio de africanos, vindo de toda parte do mundo.
-
O mundo está cheio de africanos.
-
É verdade.
-
Se pensar bem, veremos que todos somos africanos, pois a África é o berço
antropológico da humanidade...
-
Pronto, tem uma palestra agora na sala meia oito.
-
Desculpe, qual sala?
-
Meia oito.
-
Podes escrever?
-
Não sabe o que é meia oito, sessenta e oito, assim, veja: 68
-Ah,
entendi, meia é seis.
-
Isso mesmo, meia é seis. Mas não vá embora, só mais uma informação: A
organização do Congresso está cobrando uma pequena taxa para quem quiser ficar
com o material, DVD, apostilas, etc., gostaria de encomendar?
-
Quanto tenho que pagar?
-
Dez reais. Mas estrangeiros e estudantes pagam meia.
-
Humm... que bom. Ai está, seis reais.
-
Não, o senhor paga meia. Só cinco, entende?
-
Pago meia? Só cinco? Meia é cinco?
-
Isso, meia é cinco.
-
Tá bom, meia é cinco.
-
Cuidado para não se atrasar, a palestra começa às nove e meia.
-
Então já começou, são nove e vinte.
-
Não, ainda faltam dez minutos. Como falei, só começa às nove e meia.
-
Você pode escrever aqui a hora que começa?
-
Nove e meia, assim, veja: 9:30
-
Ah, entendi, meia é trinta.
-
Isso, mesmo, nove e trinta. Mais uma coisa senhor, tenho aqui um folder de um
hotel que está fazendo um preço especial para os congressistas, o senhor já
está hospedado?
-
Sim, já estou na casa de um amigo.
-
Em que bairro.
-
Nas trinta bocas.
-
Trinta bocas? Não existe esse bairro em Fortaleza, não seria nas seis bocas?
-
Isso mesmo, no bairro meia boca.
-
Não é meia boca, é um bairro nobre.
-
Então deve ser cinco bocas.
-
Não, seis bocas, entende, seis bocas. Chamam assim porque há um encontro de
seis ruas, por isso seis bocas. Entendeu?
-
E há quem possa entender?
Retirado
de: http://www.recantodasletras.com.br/cronicas/4001596
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