Pessoas vazias são cheias.
Cheias de descaso, de olhares julgadores e grama do vizinho.
São cheias de seus narizes, de seus mundos próprios, onde ninguém entra, não senhor.
Cheias de verdades, de espelhos generosos, de intolerâncias rabugentas.
Eu demais e o outro de menos.
Pessoas vazias são cheias de amor próprio, tão cheias que não sobra espaço para a acolhida do amor alheio.
Cheias de faços, possos e causos. Sobra alegoria e falta samba-enredo.
São autobiográficas, automáticas, autossuficientes, autolimpantes.
Muitos fins e poucos meios.
Muito teto e pouco chão.
Sobra sombra e falta rouge.
Pessoas vazias são cheias de nove-horas, de noves fora, de quero agora - não demora!
Cheias de uma sabedoria que não permite falhas, de repúdio às críticas amigas, de domingos sem companhia, de cobertores imóveis e tapetes ágeis.
São cheias de decibéis e pobres em sussuros, cheias de primeira pessoa, de discursos sem contexto e presenças deslocadas.
Muito senhorio e pouco aluguel.
Cheias de umbigo e carentes de coração.
Sobram dedos apontados e faltam mãos para amparar.
Pessoas vazias são cheias, sim.
Cheias de vazio.
(Elisa Caetano)
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