. Algumas delas são meros
boatos. Outras, “resumos” feitos por biógrafos, às vezes traindo o sentido
original. Também há as ditas ou escritas por uma pessoa e creditadas a outra. E
há, por fim, as fake news históricas, pura propaganda. Estas são as mais
célebres frases que todo mundo ouviu ou repetiu e que nunca foram proferidas
pelas pessoas às quais são atribuídas.
1. “A definição de insanidade é fazer a mesma coisa repetidamente e
esperar um resultado diferente — Albert Einstein
Não há nenhuma evidência de
que Einstein tenha dito essas palavras. O mais provável é que a frase tenha
sido retirada de textos utilizados pelos Narcóticos Anônimos, produzidos em
1981.
2. “Discordo do que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito
de dizê-lo” — Voltaire
Voltaire não é o verdadeiro
autor da sentença acima, mas sim a escritora inglesa Beatrice Evelyn Hall, sob
o pseudônimo SG Tallentyre. Em 1906, ela publicou uma biografia sobre o
filósofo em que descreve a relação de Voltaire com o filósofo francês Claude
Adrien Helvétius. Como o parágrafo foi escrito em primeira pessoa, o mundo
passou a creditar a frase a Voltaire.
3. “Os fins justificam os meios” — Nicolau Maquiavel
O axioma acima não é
encontrado em nenhum capítulo da obra O Príncipe. O que Maquiavel realmente
escreveu foi um bem menos malicioso: “É preciso considerar o resultado final”.
4. “Primeiro eles te ignoram. Então riem de você e te atacam. Então
você ganha” — Mahatma Gandhi
Essa máxima, que hoje
repercute em vários sites, nunca foi dita por Gandhi. O verdadeiro autor nunca
foi descoberto. No entanto, o sentido da frase é semelhante às palavras
presentes em um discurso realizado em 1918 por Nicholas Klein, um advogado e
defensor do sindicato dos trabalhadores dos EUA: "Primeiro eles te
ignoram. Então eles te ridicularizam. E então eles te atacam e querem te
queimar. E então eles constroem monumentos para você".
5. “Às vezes um charuto é apenas um charuto” — Sigmund Freud
A frase foi supostamente dita
após alguém sugerir, numa interpretação caricaturalmente freudiana, que seu
charuto era um símbolo fálico. O sentido é que nem tudo devia ser lido por uma
interpretação freudiana — ou, ao menos, não seu charuto. Entretanto, não
existem provas de que em algum momento da História o fundador da psicanálise
teria dito tal frase.
6. “Esqueçam tudo o que escrevi” — Fernando Henrique Cardoso
Teria sido proferido por
Fernando Henrique Cardoso durante um almoço particular com empresários, sempre
foi negada pelo então ex-ministro da Fazenda. Ela foi divulgada numa reportagem
publicada pela Folha de S.Paulo em 1993. Ao questionar o empresário Olacyr de
Moraes, que participou do almoço, o veículo foi informado que Fernando Henrique
pronunciou a frase de fato. No entanto, ao ser procurado novamente, em 1996,
Moraes afirmou que não se lembra da frase e muito menos do almoço.
7. “A religião é o ópio do povo” — Karl Marx
É um resumo que trai
completamente o sentido original. O que Marx diz na obra Uma Contribuição para
a Crítica da Filosofia do Direito de Hegel, de 1843, publicada somente após a
morte do filósofo, é: "A religião é o suspiro da criatura oprimida, o
coração de um mundo sem coração, e a alma de condições desalmadas. É o ópio do
povo". Isto é, a religião é algo positivo, um analgésico para a dor do
oprimido.
8. “Uma única morte é uma tragédia, um milhão de mortes é uma
estatística” — Joseph Stalin
Esse seria o resumo da filosofia
Stalin. Mas muitos dos historiadores russos procuraram e nunca encontraram
registros que comprovem sua autoria. A frase já foi creditada a vários
escritores, um deles seria o alemão Kurt Tucholsky, que numa obra de 1932
descreve um personagem fictício que fala sobre as tragédias causadas pela
guerra.
9. “Mulheres bem-comportadas raramente fazem história” — Marilyn Monroe
O ícone dos anos 50 foi
responsável por muitos momentos notórios da história do cinema, mas não por
esses dizeres. Ela já havia falecido quando a frase foi escrita pela americana
Laurel Thatcher, num artigo publicado em 1976.
10. “Houston, temos um problema” — Jack Swigert
As palavras acima foram
pronunciadas quando os astronautas da Apollo 13 notaram que uma explosão havia
danificado a nave. Contudo, a frase verdadeira do astronauta Jack Swigert fo um
bem mais calmoi: "Houston, nós tivemos um problema aqui". A citação,
que repercute até hoje, é na verdade uma adaptação feita por Ron Howard no
filme Apollo 13, de 1995.
Além disso, as palavras não
são de Jim Lovell, comandante da Apollo 13, e sim do astronauta Jack Swigert.
Após um erro de transmissão, Lovell teve que repetir a frase e acabou roubando
os créditos de Swigert.
11. “Os ingleses estão vindo! Os ingleses estão vindo!” — Paul Revere
Revere nunca avisou os
cidadãos de Concord, nos EUA, sobre o avanço das tropas britânicas. Na verdade
ele foi capturado antes que pudesse fazê-lo. O verdadeiro responsável pela
frase foi Samuel Prescott, outro patriota que também foi capturado, mas
conseguiu escapar. No entanto, a fama de Revere foi imortalizada pelo poema
Paul Revere's Ride, 1860, de Henry Wadsworth Longfellow.
12. “Se eles não têm pão, que comam brioches!” — Maria Antonieta
A rainha guilhotinada nunca
chegou nem perto de dizer algo assim. Quem a conhecia afirmou estar preocupada
com a situação do povo. A citação foi retirada das Confissões de Jean-Jacques
Rousseau, escritor de sucesso durante a Revolução Francesa. No livro, Rousseau
menciona que uma princesa, da qual não diz o nome, teria dito essas palavras ao
ver o povo faminto.
13. “Temo que tudo o que fizemos foi despertar um gigante adormecido” —
Isoroku Yamamoto
Há indícios de que Yamamoto
realmente se arrependeu de planejar o ataque à base naval norte-americana de
Pearl Harbor, em 1941, mas não qualquer indício de que tenha dito a frase
acima. Os japoneses escolheram atacar os Estados Unidos porque parecia um alvo
mais fácil que a União Soviético. A frase aperceu no filme Tora! Tora! Tora!,
de 1970, mas alguns acreditam que tais palavras já eram famosas antes mesmo de
chegarem ao cinema.
14. “Fi-lo porque qui-lo” — Jânio Quadros
A citação é na verdade o
título de uma resenha publicada na revista Veja sobre o livro 15 Contos, de
Jânio Quadros, satirizando seu estilo rebuscado. Além disso, a estrutura da
frase é incorreta. Como a conjunção atrai o pronome, a maneira correta deveria
ser "Fi-lo porque o quis".
15. “Até tu, Bruto?”— Júlio César
A frase teria sido dita por
Júlio César quando viu Marco Júnio Bruto, um amigo próximo, no meio dos
responsáveis pelo seu assassinato. A sentença original seria "Kai su,
têknon", que também pode querer dizer "Você também,
menino/moleque". A que você escuta é na verdade uma adaptação realizada em
obras como Júlio César, de 1599, escrita pelo dramaturgo William Shakespeare.
Outro ponto que também instiga historiadores é a veracidade da frase. A obra A
Vida dos Doze Césares, escrita por Caio Suetónio, 165 anos após o assassinato
do ditador, não menciona a frase.
Thiago Lincolins e Letícia
Yazbek