(Walt Whitman)
A
pé e de coração leve
Eu
enveredo pela estrada aberta,
Saudável,
livre, o mundo à minha frente,
À
minha frente o longo atalho pardo
Levando-me
aonde eu queria.
Daqui
em diante não peço mais boa-sorte,
Boa-sorte
sou eu.
Daqui
em diante não lamento mais,
Não
transfiro, não careço de nada;
Nada
de queixas atrás das portas,
De
bibliotecas, de tristonhas críticas;
Forte
e contente vou eu
Pela
estrada aberta.
A
terra é quanto basta:
Eu
não quero as constelações mais perto
Nem
um pouquinho, sei que se acham muito bem
Onde
se acham, sei que são suficientes
Para
os que estão em relação com elas.
(Carrego
ainda aqui
os
meus antigos fardos de delícias,
carrego
– homens e mulheres –
carrego-os
comigo por onde eu vou,
confesso
que é impossível para mim
ficar
sem eles: deles estou recheado
e
em troca eu os recheio.)
A
terra a se expandir
À
esquerda e à direita,
Pintura
viva – cada parte com
A
luz mais adequada,
A
música a se ouvir onde faz falta
E
a se calar onde não é querida,
A
jubilosa voz da estrada aberta,
A
alegre e fresca sensação da estrada.
Ó
estrada que percorro, é a mim que dizes
“não
me deixes”?
Dizes
“não te aventures, se me deixas
Estás
perdido”?
Dizes
“já estou preparada,
Bem
batida e transitada,
Fica
comigo”?
Ó
estrada minha e de todos,
O
que lhe posso dizer
É
que não tenho medo de deixa-la,
Por
mais que a ame: você me expressa melhor
Do
que eu expresso a mim mesmo,
Você
há de ser para mim
Mais
do que o meu poema.
...
Allons!
Nós não devemos
Ficar
aqui parados, por mais doces
Que
sejam estes armazéns fornidos,
Por
mais conveniente
Que
pareça esta casa, nós aqui
Não
podemos ficar,
Por
mais abrigado que seja o porto
E
por mais calmas que estas águas sejam,
Aqui
nós não devemos ancorar;
Por
mais acolhedora
Que
seja a hospitalidade que nos cerca,
Não
nos é permitida desfruta-la
Senão
por bem pouco tempo.
Ouça-me!
Eu vou ser franco com você:
Não
ofereço velhos prêmios fáceis,
O
que ofereço são novos prêmios difíceis.
Eis
como hão de ser os dias que lhe podem suceder:
Você
não acumulará riquezas, assim chamadas,
Distribuirá
com mão pródiga
Tudo
o que venha a adquirir ou ganhar,
Nem
bem chegando à cidade à qual era destinado
Dificilmente
se há de estabelecer
E
ter alguma satisfação
sem
que ouça um apelo irresistível
a
de novo partir,
terá
de acostumar-se às zombarias
e
aos risinhos irônicos
dos
que foram ficando para trás,
aos
acenos de amor
que
receber
você
dará em resposta
somente
apaixonados beijos de despedida,
e
não permitirá
o
abraço das pessoas que vierem
com
as mãos suplicantes
em
sua direção.