Por Jeff Alves
Há
muitos anos havia no oriente um velho mestre que morava em um local de difícil
acesso. Ele vivia em uma caverna que ficava atrás de um imenso lago de água
extremamente salgada e de tonalidade bastante escura. A única forma de chegar
até ele era atravessando o lago, pois atrás da caverna havia um profundo
abismo.
Como
a fama de sua sabedoria já havia corrido o mundo, inúmeros candidatos vinham
até o velho mestre, pedindo que ele os aceitasse como discípulos. Embora o
velho estivesse disposto a ensinar, sentia que para alcançar a sabedoria, seria
necessário que o candidato provasse sua dignidade. A prova por ele estabelecida
era a seguinte: o candidato deveria atravessar o lago, sem utilizar nenhum tipo
de embarcação, trazendo nas mãos uma flor de acácia. Se a flor lhe fosse
entregue sem murchar, o candidato seria aceito.
Durante
anos, muitos tentaram sem obter sucesso, porque devido à alta salinidade do
lago, os candidatos sempre acabavam por deixar que a flor perecesse. A maioria
deles tentava ir bem próximo às margens, pois acreditavam ser esse o melhor
caminho. Entretanto, tal trajeto só fazia aumentar o percurso, que por si só já
era bastante longo.
Certo
dia foi até ele um jovem chamado Ovídio, também disposto a vencer o desafio.
Ovídio era um jovem inteligente e suas intenções eram sinceras e o mestre
desejou, em seu coração, que o rapaz fosse mais feliz que os demais na execução
da tarefa.
Ovídio
já havia visto muitos de seus amigos tentarem a travessia sem sucesso, e sendo
bom observador, percebeu que eles sempre tentavam nadar pela beirada próxima à
margem. Decidiu então fazer um caminho diferente; resolveu seguir sua intuição
e tentar o caminho do meio. Foi uma decisão bastante difícil, pois estando no
meio de um lago tão extenso não seria possível retornar caso algo não corresse
bem, mas sua decisão estava tomada, e ele não pretendia voltar atrás.
Pegou
a mais bela flor de acácia que encontrou e dirigiu-se para o centro do lago.
Nadou uns poucos metros e, então, percebeu que o lago parecia ser bem mais raso
no centro. Arriscou ficar em pé e logo viu que podia fazê-lo com facilidade. A
partir daí caminhou, tranquilamente, até a outra margem, onde o mestre já o
aguardava, com um sorriso nos lábios.
Ao
chegar, Ovídio entregou a flor intacta ao mestre, que a recebeu com alegria
dizendo:
-
Hoje você teve sua primeira lição. Na vida, assim como você percebeu ao
atravessar o lago, o melhor caminho é sempre o Caminho do Meio. Em tudo o que
fizermos na vida deve haver equilíbrio e moderação. Devemos ser moderados no
comer, no beber, etc. É importante dar um passo de cada vez, sem pressa e sem
pular etapas.
Ovídio
passou muitos anos como discípulo e, mais tarde, tornou-se ele próprio um
mestre, o que aconteceu naturalmente, sem pular etapas e seguindo sempre pelo
Caminho do Meio.
Retirado
da Sociedade das Ciências Antigas (SCA)
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