Seguidores

terça-feira, 19 de julho de 2016

Parando Para Prosseguir

Por Gilberto Antônio Silva

Já falei algumas vezes sobre Wuwei, a não-ação, como base da filosofia taoista. Embora pareça muito razoável e bem importante para uma vida equilibrada, muitas pessoas me dizem que é algo muito difícil de se realizar ou mesmo que é um pensamento utópico. Bem, embora seja possível e tenhamos visto muitos taoistas seguindo esse princípio, com certeza não é algo fácil. Vamos ver como isso pode ser implementado e vivenciado em nossas vidas.

Quase sempre o que nos impede de ver a possiblidade de vivenciarmos a vida através do wuwei é nossa agitação diária. Somos forçados a um ritmo de vida e de ações muito superior ao que nossos antepassados mais próximos vivenciavam. Eu mesmo cresci em um mundo sem internet, celular, CD, DVD, vídeo-cassete, vídeo-games, computador, fax. E não faz tanto tempo assim. A tecnologia avança mais rápido do que nós, seres humanos, conseguimos acompanhar. Isso gera uma série de problemas e transtornos epidêmicos como ansiedade, por exemplo. Nesse ambiente, pensar em viver seguindo o fluxo, sem intenções antecipadas, é algo quase idílico.

Seguir o fluxo como os taoistas pregam é exatamente o inverso do que experimentamos hoje, quando os acontecimentos nos empurram em uma direção e nos obrigam a fazer planejamentos constantes sobre os próximos passos que daremos, sem nem enxergarmos direito para onde vamos. Caminhamos, tropeçamos, levantamos e prosseguimos aos trancos, procurando constantemente um caminho mais fácil. “Relaxamento” é uma palavra distante, fruto de algum tipo de terapia oriental para a qual nos dirigimos quando não aguentamos mais a pressão que nos empurra em constante movimento.
Se quisermos realmente experimentar e vivenciar o wuwei, precisamos iniciar por algo simples a fim de nos acostumarmos com o novo fluxo. E a melhor forma de fazer isso é algo um tanto estranho para nossa vida diária: parar tudo.

Sempre que nos sentimos pressionados por prazos, obrigações e necessidades, o melhor que temos a fazer é parar tudo. Simplesmente pare tudo o que estiver fazendo por um ou dois minutos. Acredite, aquele projeto que precisa concluir em 12 horas continuará lá depois de dois minutos e não haverá nenhuma mudança significativa no projeto. Mas haverá em você.

O que temos que fazer:
1-            Pare imediatamente tudo o que estiver fazendo quando a pressão se tornar insuportável ou aparecer a ideia de que não conseguirá realizar o que precisa;

2-            Feche os olhos por um ou dois minutos e respire suave e profundamente, prestando atenção total na respiração e a contando, lentamente;

3-            Mantenha em sua consciência que isso não irá prejudicar seu trabalho ou tarefa, de modo algum;

4-            Mentalize um riacho correndo sem parar, uma praia ou outra imagem mental tranquilizadora;

5-            Depois de algumas respirações mantendo a imagem bem clara na sua mente, abra lentamente os olhos.

6-            Se puder tirar um pouco mais de tempo, dê uma volta nem que seja no saguão ou em uma varanda, saia de seu local habitual e quebre o fluxo.
Você irá reparar que sua ansiedade diminui, sua mente se foca com mais firmeza e suas ideias ficam mais claras. A aparente “perda de tempo” na realidade vai impulsionar suas tarefas.
O segredo aqui é a quebra do fluxo impositivo de compromissos, tarefas, obrigações e preocupações que nos empurram mesmo contra a vontade. Esse exercício proporciona uma coisa que talvez há muito tempo você não tenha experimentado: o controle do fluxo de sua vida. Escolher não fazer nada, mesmo que por pouco tempo, é um tipo de controle.
Antes de tentar o livre fluxo da não-ação é necessário, primeiro, quebrar as correntes que nos aprisionam nos fluxos artificiais. Obter o controle é uma experiência muito interessante e nos mostra que existe realmente outro modo de viver. Parar para poder prosseguir é um conselho bastante taoista, afinal de contas.

_________________________________________
Gilberto Antônio Silva é Parapsicólogo, Terapeuta e Jornalista. Como Taoista, atua amplamente na pesquisa e divulgação desta fantástica cultura chinesa através de cursos, palestras e artigos. É autor de 14 livros, a maioria sobre cultura oriental e Taoismo. Sites: www.taoismo.org e www.laoshan.com.br



sábado, 19 de março de 2016

Respostas sem Perguntas

 Por Gilberto Antônio Silva
 Há muito tempo, quando tive algumas dúvidas sobre o meu Caminho, procurei um Mestre para me fornecer alguma luz. Eu queria respostas, como todas as pessoas que se encontram em uma grande encruzilhada. Mas a primeira coisa que ele me disse foi se eu tinha uma boa pergunta. Fiquei em choque, pois eu queria respostas mas não havia pensado nas perguntas. Muito menos em uma única pergunta.

As pessoas passam a vida em busca de respostas, mas de modo confuso e desordenado. Queremos na verdade um milhão de informações, quando precisamos de apenas uma: a resposta a uma boa pergunta. Questionamento em demasia é uma das coisas que os Mestres do Oriente mais detestam nos ocidentais. Perguntamos sobre tudo, várias vezes, o tempo todo. No Oriente se espera que as pessoas aprendam pela prática de seus exercícios e estudos, no decorrer de um longo período de tempo.

Mas queremos saber tudo, já. E isto causa confusão. Se você vai de avião para Fortaleza e quer saber se haverá uma escala em Salvador, não precisa perguntar à simpática moça do guichê qual o modelo de avião, quantos lugares tem, qual a velocidade, em qual altitude voará. Basta perguntar se haverá escala em Salvador. Simples? Nem tanto.

Passamos a vida colecionando informações desnecessárias. E hoje, com a sofisticação das comunicações, somos bombardeados com muito mais informação do que precisamos para tomar nossas decisões. De fato, saber selecionar informações úteis será o grande desafio deste século XXI.

Outro problema a ser enfrentado é que na maioria das vezes em que procuramos alguma resposta, na verdade buscamos a confirmação de algo que já temos na mente. Perguntar algo com o espírito sereno e imparcial é uma das coisas mais difíceis para os seres humanos. Perguntar, esperando já uma determinada resposta, conduz muitas vezes à desilusão e à frustração. O perguntador sincero aguarda a resposta sem expectativas. O I Ching, por exemplo, é uma ferramenta extremamente útil desde que se tenha esta postura adequada ao se fazer a consulta. Muitos afirmam ser difícil interpretar o I Ching. Eu digo que é muito fácil, perto da dificuldade de se fazer a consulta com o espírito imparcial e escolher uma boa pergunta.

Ao buscar alguma informação pense sempre na pergunta. Ela deve ser clara, simples e conduzir a uma resposta adequada. Sim, existem perguntas que originam respostas confusas que não esclarecem nada.

Sempre que receber uma resposta estranha ou inadequada pense se a pergunta foi bem formulada. Quem pergunta o que quer ouve o que não quer, diz a sabedoria popular. Este é seu verdadeiro significado: quem pergunta qualquer coisa ganha uma resposta que origina mais perguntas…

[ Texto extraído do livro “Reflexões Taoistas”, deste autor ]

_________________________________________
Gilberto Antônio Silva é Parapsicólogo, Terapeuta e Jornalista. Como Taoista, atua amplamente na pesquisa e divulgação desta fantástica cultura chinesa através de cursos, palestras e artigos. É autor de 14 livros, a maioria sobre cultura oriental e Taoismo. Sites: www.taoismo.org e www.laoshan.com.br

Retirado de: http://www.deldebbio.com.br/2016/03/19/respostas-sem-perguntas-2/#more-21353

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

A Paz Reside em Não Julgar

Por Portal Raízes
Pense no que vai dizer antes de abrir a boca. Seja breve e preciso, já que cada vez que deixa sair uma palavra, deixa sair uma parte da sua energia
Assim, aprenderá a desenvolver a arte de falar sem perder energia.
Nunca faça promessas que não possa cumprir. Não se queixe, nem utilize palavras que projetem imagens negativas, porque se reproduzirá ao seu redor tudo o que tenha fabricado com as suas palavras carregadas de energia.
Se não tem nada de bom, verdadeiro e útil a dizer, é melhor não dizer nada.
Aprenda a ser como um espelho: observe e reflita a energia.
O Universo é o melhor exemplo de um espelho que a natureza nos deu, porque aceita, sem condições, os nossos pensamentos, emoções, palavras e ações, e envia-nos o reflexo da nossa própria energia através das diferentes circunstâncias que se apresentam nas nossas vidas.
Se identifica-se com o êxito, terá êxito. Se identifica-se com o fracasso, terá fracasso.
Assim, podemos observar que as circunstâncias que vivemos são simplesmente manifestações externas do conteúdo da nossa conversa interna. Aprenda a ser como o universo, escutando e refletindo a energia sem emoções densas e sem preconceitos.
Porque, sendo como um espelho, com o poder mental tranqüilo e em silêncio, sem lhe dar oportunidade de se impor com as suas opiniões pessoais, e evitando reações emocionais excessivas, tem oportunidade de uma comunicação sincera e fluida.
Não se dê demasiada importância e seja humilde. Pois quanto mais se mostra superior, inteligente e prepotente, mais se torna prisioneiro da sua própria imagem e vive num mundo de tensão e ilusões.
Seja discreto, preserve a sua vida íntima. Desta forma libertar-se-á da opinião dos outros e terá uma vida tranqüila e benevolente, invisível, misteriosa, indefinível, insondável como um grande sábio.
Não entre em competição com os demais, a terra que nos nutre dá-nos o necessário. Ajude o próximo a perceber as suas próprias virtudes e qualidades, a brilhar. O espírito competitivo faz com que o ego cresça e, inevitavelmente, crie conflitos.
Tenha confiança em si mesmo. Preserve a sua paz interior, evitando entrar na provação e nas trapaças dos outros.
Não se comprometa facilmente, agindo de maneira precipitada, sem ter consciência profunda da situação.
Tenha um momento de silêncio interno para considerar tudo que se apresenta e só então tome uma decisão.
Assim desenvolverá a confiança em si mesmo e a Sabedoria. Se realmente há algo que não sabe, ou para que não tenha resposta, aceite o fato.
Não saber é muito incômodo para o ego, porque ele gosta de saber tudo, ter sempre razão e dar a sua opinião muito pessoal. Mas, na realidade, o ego nada sabe, simplesmente faz acreditar que sabe.
Evite julgar ou criticar. O verdadeiro sábio é imparcial nos seus juízos: não critica ninguém, tem uma compaixão infinita e não conhece a dualidade.
Cada vez que julga alguém, a única coisa que faz é expressar a sua opinião pessoal, e isso é uma perda de energia, é puro ruído. Julgar é uma maneira de esconder as nossas próprias fraquezas.
O sábio tolera tudo sem dizer uma palavra. Tudo o que o incomoda nos outros é uma projeção do que não venceu em si mesmo.
Deixe que cada um resolva os seus problemas e concentre a sua energia na sua própria vida. Ocupe-se de si mesmo, não se defenda.
Quando tenta defender-se, está a dar demasiada importância às palavras dos outros, a dar mais força à agressão deles.
Se aceita não se defender, mostra que as opiniões dos demais não o afetam, que são simplesmente opiniões, e que não necessita de os convencer para ser feliz.
O seu silêncio interno torna-o impassível. Faça uso regular do silêncio para educar o seu ego, que tem o mau costume de falar o tempo todo. Pratique a arte de não falar.
Tome algumas horas para se abster de falar. Este é um exercício excelente para conhecer e aprender o universo do saber ilimitado, em vez de tentar explicar o que é esse saber.
Progressivamente desenvolverá a arte de falar sem falar, e a sua verdadeira natureza interna substituirá a sua personalidade artificial, deixando aparecer a luz do seu coração e o poder da sabedoria do silêncio.
Graças a essa força, atrairá para si tudo o que necessita para a sua própria realização e completa libertação.
Porém, tem que ter cuidado para que o ego não se infiltre.
O Poder permanece quando o ego se mantém tranqüilo e em silêncio. Se o ego se impõe e abusa desse Poder, este converter-se-á num veneno, que o envenenará rapidamente.
Fique em silêncio, cultive o seu próprio poder interno. Respeite a vida de tudo o que existe no mundo.
Não force, manipule ou controle o próximo. Converta-se no seu próprio Mestre e deixe os demais serem o que têm a capacidade de ser.