A Verdade está além das aparências
percebidas pelos sentidos, está além da personalidade. A personalidade é uma
ilusão que precisa ser dissipada para que a Verdade brilhe. As pessoas
confundem-se com a personalidade, atribuindo grande importância ao prazer e à
dor que sentem. Não há outro caminho para a Felicidade Perfeita que não seja o
conhecimento da Verdade Suprema. Essa Verdade-Felicidade é sentida quando se
aniquilam as sensações e a ilusão do ego. Somente com o pleno discernimento,
adquirido pela meditação profunda, é possível distinguir o real do irreal,
perceber a dinâmica da vida manifestada e a neutralidade que emana da natureza.
Tudo no universo segue seu ritmo natural, sem paixões nem preferências.
Apegar-se a algo ou a alguém e preferir isso àquilo é um atributo da
personalidade humana. As pessoas tanto se apegam ao prazer como à dor, e cada
um se julga pleno de razão para sofrer ou para se deleitar com o mundano.
A ignorância é a fonte de todo mal. Ela surge
pela identificação com os sentidos, o relacionamento entre os sentidos e o
mundo exterior origina a personalidade e o apego às coisas materiais. Onde está
a personalidade não pode haver a Verdade, pois são incompatíveis. Enquanto as
pessoas estão inconscientes, enquanto a personalidade encobre o esplendor da
essência divina, enquanto se busca a sobrevivência e não a vida, enquanto se
procura ter e se esquece de que o sentido da vida é ser, cada um busca afirmar
sua verdade pessoal, limitada e mesquinha. O resultado só poderia ser o que se
vê: um mundo confuso, cheio de desarmonias, de guerras. E o resultado nem
poderia ser outro, pois bilhões de egos querendo afirmar suas pseudoverdades
individuais só poderia gerar uma grande conturbação. O mais extraordinário é
que as pessoas, diante de tantos erros e quase nenhum acerto, ainda não conseguem
admitir a falsidade do ego e da mente. Sabem que "pelo fruto se conhece a
árvore". Então, um mundo conturbado só pode ter sido fruto de mentes
doentias e desequilibradas. Mas ainda não se rendem, e justificam suas ações
criando leis que consideram justas porque agradam seu ego, acreditando que
"errar é humano", "ninguém é perfeito", "perdão existe
porque existe erro". Eis aí a grande blasfêmia contra a suprema lei do
cosmo. O erro não é justificável — é do ego, que é ilusório; e nem a
imperfeição nem o perdão existem. Todos os Mestres ensinam que os homens são
divinos em essência, como a afirmação do Mestre Jesus: "Sede perfeitos
como o Ser é perfeito". O perdão é a negação da lei de causas e efeitos. A
naturalidade do erro e a facilidade do perdão foram incentivadas para que a personalidade
pudesse justificar-se a si mesma.
A Verdade Suprema não brilhar plenamente
onde houver resquícios de Individualidade, onde houver interesse pessoal, onde
houver crença na personalidade e nos seus pseudovalores. O ego faz com que as
pessoas deixem de perceber a essência divina latente em tudo pari colocarem em
primeiro plano seus gostos e desgostos. Brigam por ninharias e gostam muito de
que todos prestem atenção em sua felicidade ou em sua dor, ignorando que tudo
isso é desprovido de realidade e não passa de uma ilusão, tendo como destino
comum a morte.
Há, porém, um caminho que conduz à perfeição,
e ele só pode ser trilhado por quem eliminou de si todo egoísmo. Aquele que
compreende a Lei Suprema e a cumpre conhece sua verdadeira natureza. Não
prejudica aos demais seres, de todos os reinos, e está livre das paixões. Seus
gestos e palavras só transmitem consolo e amor supremo, tornando-se, para todos,
um exemplo de emancipação espiritual.
SHANTI
PREM HARE OM
(Sri
Maha Krshina Swami in Sutra Maha Devi Emancipação)