Reconhecido
filósofo e Professor de Linguística no M.I.T., o norte-americano Noam Chomsky
tem durante as últimas décadas, demonstrado ser uma das vozes mais ativas a
nível mundial no que toca à discussão sobre a manipulação mediática.
Baseando-se
no original de Chomsky "Silent Weapons for Quiet Wars" (Armas
Silenciosas para Guerras Tranquilas) de 1979, e
posteriormente copilado do livro do Frances Sylvain Timsit "Estratégias de Manipulação" de
2011, esta verdadeira cartilha das técnicas de manipulação usadas pelos meios
de comunicação social, deve ser uma leitura indispensável para quem ainda se dá
ao trabalho de abrir o jornal ou ligar a televisão.
1-
A ESTRATÉGIA DA DISTRAÇÃO.
O
elemento primordial do controle social é a estratégia da distração que consiste
em desviar a atenção do público dos problemas importantes e das mudanças
decididas pelas elites políticas e econômicas, mediante a técnica do dilúvio ou
inundações de contínuas distrações e de informações insignificantes. A estratégia
da distração é igualmente indispensável para impedir ao público de
interessar-se pelos conhecimentos essenciais, na área da ciência, da economia,
da psicologia, da neurobiologia e da cibernética. “Manter a atenção do público
distraída, longe dos verdadeiros problemas sociais, cativada por temas sem
importância real. Manter o público ocupado, ocupado, ocupado, sem nenhum tempo
para pensar; de volta à granja como os outros animais (citação do texto 'Armas
silenciosas para guerras tranquilas')”.
2-
CRIAR PROBLEMAS, DEPOIS OFERECER SOLUÇÕES.
Este
método também é chamado “problema-reação-solução”. Cria-se um problema, uma
“situação” prevista para causar certa reação no público, a fim de que este seja
o mandante das medidas que se deseja fazer aceitar. Por exemplo: deixar que se
desenvolva ou se intensifique a violência urbana, ou organizar atentados
sangrentos, a fim de que o público seja o mandante de leis de segurança e
políticas em prejuízo da liberdade. Ou também: criar uma crise econômica para fazer
aceitar como um mal necessário o retrocesso dos direitos sociais e o
desmantelamento dos serviços públicos.
3-
A ESTRATÉGIA DA GRADAÇÃO.
Para
fazer com que se aceite uma medida inaceitável, basta aplicá-la gradativamente,
a conta-gotas, por anos consecutivos. É dessa maneira que condições
socioeconômicas radicalmente novas (neoliberalismo) foram impostas durante as
décadas de 1980 e 1990: Estado mínimo, privatizações, precariedade,
flexibilidade, desemprego em massa, salários que já não asseguram ingressos
decentes, tantas mudanças que haveriam provocado uma revolução se tivessem sido
aplicadas de uma só vez.
4-
A ESTRATÉGIA DO DEFERIDO.
Outra
maneira de se fazer aceitar uma decisão impopular é a de apresentá-la como
sendo “dolorosa e necessária”, obtendo a aceitação pública, no momento, para
uma aplicação futura. É mais fácil aceitar um sacrifício futuro do que um
sacrifício imediato. Primeiro, porque o esforço não é empregado imediatamente.
Em seguida, porque o público, a massa, tem sempre a tendência a esperar
ingenuamente que “tudo irá melhorar amanhã” e que o sacrifício exigido poderá
ser evitado. Isto dá mais tempo ao público para acostumar-se com a ideia de
mudança e de aceitá-la com resignação quando chegar o momento.
5-
DIRIGIR-SE AO PÚBLICO COMO CRIANÇAS DE BAIXA IDADE.
A
maioria da publicidade dirigida ao grande público utiliza discurso, argumentos,
personagens e entonação particularmente infantis, muitas vezes próximos à
debilidade, como se o espectador fosse um menino de baixa idade ou um
deficiente mental. Quanto mais se intente buscar enganar ao espectador, mais se
tende a adotar um tom infantilizante. Por quê? “Se você se dirige a uma pessoa
como se ela tivesse a idade de 12 anos ou menos, então, em razão da sugestão,
ela tenderá, com certa probabilidade, a uma resposta ou reação também
desprovida de um sentido crítico como a de uma pessoa de 12 anos ou menos de
idade (ver “Armas silenciosas para guerras tranquilas”)”.
6-
UTILIZAR O ASPECTO EMOCIONAL MUITO MAIS DO QUE A REFLEXÃO.
Fazer
uso do aspecto emocional é uma técnica clássica para causar um curto circuito
na análise racional, e por fim ao sentido critico dos indivíduos. Além do mais,
a utilização do registro emocional permite abrir a porta de acesso ao
inconsciente para implantar ou enxertar idéias, desejos, medos e temores,
compulsões, ou induzir comportamentos…
7-
MANTER O PÚBLICO NA IGNORÂNCIA E NA MEDIOCRIDADE.
Fazer
com que o público seja incapaz de compreender as tecnologias e os métodos utilizados
para seu controle e sua escravidão. “A qualidade da educação dada às classes
sociais inferiores deve ser a mais pobre e medíocre possível, de forma que a
distância da ignorância que paira entre as classes inferiores às classes
sociais superiores seja e permaneça impossível para o alcance das classes
inferiores (ver ‘Armas silenciosas para guerras tranquilas’)”.
8-
ESTIMULAR O PÚBLICO A SER COMPLACENTE NA MEDIOCRIDADE.
Esta
estratégia consiste em levar o público a achar que é moda o fato de ser estúpido,
vulgar e inculto. Passa pela divulgação preferencial de conteúdos medíocres, e
pela coroação de ícones populares que em geral não apresentam demasiada cultura, nem inteligência.
9-
REFORÇAR A REVOLTA PELA AUTOCULPABILIDADE.
Fazer
o indivíduo acreditar que é somente ele o culpado pela sua própria desgraça,
por causa da insuficiência de sua inteligência, de suas capacidades, ou de seus
esforços. Assim, ao invés de rebelar-se contra o sistema econômico, o individuo
se auto-desvalida e culpa-se, o que gera um estado depressivo do qual um dos
seus efeitos é a inibição da sua ação. E, sem ação, não há revolução!
10-
CONHECER MELHOR OS INDIVÍDUOS DO QUE ELES MESMOS SE CONHECEM.
No
transcorrer dos últimos 50 anos, os avanços acelerados da ciência têm gerado
crescente brecha entre os conhecimentos do público e aquelas possuídas e
utilizadas pelas elites dominantes. Graças à biologia, à neurobiologia e à
psicologia aplicada, o “sistema” tem desfrutado de um conhecimento avançado do
ser humano, tanto de forma física como psicologicamente. O sistema tem
conseguido conhecer melhor o indivíduo comum do que ele mesmo conhece a si
mesmo. Isto significa que, na maioria dos casos, o sistema exerce um controle
maior e um grande poder sobre os indivíduos do que os indivíduos a si mesmos.