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sábado, 30 de novembro de 2013

Como se Tornar uma Pessoa Miserável

Eu sei que na verdade ninguém quer isso (pelo menos torço para que ninguém queira...), mas se quiser estão aí algumas sugestões que sem dúvida farão de sua vida uma experiência insuportável, tanto para você quanto para os que te rodeiam:

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Tenha medo de perder seu trabalho.
A urgência econômica pode gerar miséria nas condições materiais da vida, mas ainda que tenha um trabalho estável e agradável é possível dar um pouco de sabor à vida queixando-se o tempo todo do que faz (falaremos das queixas mais adiante), além de temer perdê-lo. O mercado trabalhista sempre está flutuando e não sabemos quando nossa cabeça será a seguinte na guilhotina. Repetir seus erros constantemente, agir de maneira servil ou francamente hipócrita com seus colegas ou simplesmente imaginar o que será morrer de fome nas ruas quando for despedido é uma prática diária que requer toda a angústia do mundo.

Pratique o tédio.
As pessoas miseráveis costumam ter um aura de sabe-tudo: cultivam a sensação de que tudo é previsível, que a vida não tem emoção, que não há possibilidade de aventura, que uma pessoa intrinsecamente fascinante deve depositar sua vida em uma expectativa completamente tediosa e sem sentido. Cultivar este tipo de sentimento acarreta outro benefício: você inevitavelmente se torna um chato de galocha. Amigos e parentes vão evitar sua companhia. Não vai ser convidado para nada, ninguém vai querer fazer nem uma ligação, muito menos realmente vê-lo. Quando isso acontece, você se sente sozinho e ainda mais entediado e infeliz.

Adote uma identidade negativa.
Se não sabe por onde começar pode assumir algum diagnóstico físico ou mental e viver de acordo a ele: se estiver deprimido torne-se uma pessoa depressiva; se sentir-se ansioso, torne-se uma pessoa ansiosa. Simplesmente deixe que seu diagnóstico condicione todos os aspectos de sua existência. Pratique os comportamentos mais associados a essa condição, principalmente quando interfiram com as atividades e as relações do cotidiano. Concentre-se em como você está deprimido e torne-se um chorão. Recuse-se a ir a determinados lugares dizendo que "muvucos" te deixam ansioso. Trabalhe em ataques de pânico visando causar tumulto. É importante mostrar que você não gosta destes estados de ânimo ou comportamentos, mas que não há nada que você possa fazer para impedi-los. Sobretudo pratique colocar-se no estado fisiológico que represente a sua identidade negativa, por exemplo, se estiver deprimido, curve os ombros, olhe para o chão, respire superficialmente. É importante condicionar seu corpo para ajudá-lo a atingir seu pico negativo o mais rápido possível.

Discuta por coisas tontas.
Não falamos de um debate filosófico senão de um assunto de poder: para as pessoas altamente miseráveis, ter a razão é mais importante do que dialogar com o outro para encontrar uma verdade comum ou um terreno de interlocução (O Youtube tem uma grande leva dessas pessoas que criam discursos inflamados e mostram sua miserabilidade fechando os comentários). Brigar por qualquer merda é especialmente útil quando se tem um relacionamento amoroso, pois o outro sempre manifesta pequenos detalhes que são suficientes para arruinar o dia dos que querem ser miseráveis. Discutir é um "imelhorável" substituto do amor, pois as constantes brigas acabam com o afeto mútuo que de outro modo poderia crescer e se tornar imprevisível e, portanto, perigosamente maravilhoso.

Desconfie das intenções dos demais.
A gente nunca sabe se um comentário ou uma pergunta que nos fazem não é em realidade um insulto ou uma forma velada de humilhação. Pessoas altamente miseráveis sempre estão mais pendentes do que os outros não dizem, do que dizem efetivamente. Por exemplo, se alguém perguntar: "Você gostou mesmo desse filme?" Devo pensar de imediato que meu interlocutor está tentando me humilhar ao dizer que não entendi o filme, ou está se preparando para dizer que eu tenho péssimo gosto para filmes. A idéia é sempre esperar o pior das pessoas. Isto pode ser complementado com a fofoca: não há nada mais miserável do que falar das segundas intenções dos demais quando estes não estão escutando.

Não ajude ninguém.
Faça o que fizer, faça-o apenas pensando no ganho pessoal. Às vezes você vai ser tentado a ajudar alguém, contribuir para uma instituição de caridade, ou participar de uma atividade da comunidade. Não faça! A menos que haja algum benefício pessoal, assim como a oportunidade de parecer uma boa pessoa ou conhecer alguém que você possa pedir dinheiro algum dia. Nunca caia na esparrela de fazer algo simplesmente porque você quer ajudar as pessoas. Lembre-se que seu principal objetivo é cuidar de uma pessoa: você, mesmo que se odeie com todas as forças.

Se tudo o mais falhar, culpe seus pais
Em verdadeiro sentido, uma pessoa miserável é uma criança birrenta em busca de afeto. Mas essa criança pode aprender também que seus erros não são seus -e portanto fugir de suas responsabilidades-, senão que seus defeitos e falhas são culpa daqueles que a criaram: os pais. Não é você que decide a cada dia o curso de sua própria existência, senão que está pré-determinado pelos erros de criação de seus pais. Repita a anterior várias vezes ao dia e terminará odiando-os verdadeiramente, e nada melhor para uma pessoa miserável do que o ódio gratuito.

Não desfrute dos prazeres da vida.
Música, comida, paisagens naturais, arte? Essas são coisas superficiais para gente tonta que não sabe nada da vida. As pessoas altamente miseráveis sabem que todo prazer é transitório e, de alguma forma, egocêntrico, pois são uma distração que não pode nunca compensar o miserável estado do mundo atual. Nada melhor que recordar constantemente que o mundo é uma bosta, um lugar horrível, cheio de pobreza, doenças e devastações que invalidam qualquer momento de prazer.

Glorifique ou satanize o passado
Dizem que todo tempo passado foi melhor, mas o passado também é o lugar das oportunidades perdidas, desperdiçadas ou ignoradas. Se em algum dia experimentar prazer com o estado atual de sua vida, recorde-se quando não tinha dinheiro, quando se divorciou, quando deixou de ser o pai presente por causa do divórcio e chorava miseravelmente a ausência dos filhos, lembre quando foi despedido de algum trabalho ou quando recebeu uma nota vermelha na escola, sem se importar que já tenham passado 20... 30 anos. "As más lembranças são para sempre", poderia ser um bom slogan para ter à vista em qualquer situação.

Evite a gratidão.
Muitas pesquisas mostram que as pessoas que expressam gratidão são mais felizes do que aqueles que não o fazem, por isso nunca expresse gratidão, um elemento que imediatamente ajuda a ver o positivo dentro das situações negativas. Evite agradecer os amigos e parentes bem intencionados ao seu redor, que têm a obrigação de servi-lo por teus evidentes dotes em ______________(coloque aqui o talento que você acredita que ninguém reconhece). Ademais, só um idiota acharia que há tal coisa como "bênção": a vida, segundo os maiores miseráveis de coração, é o sofrimento na antessala da morte. Que há para agradecer nisso?

Encontre um novo amor e tente mudá-lo.
Mas certifique-se de se apaixonar por alguém com um defeito maior (viciado em jogos, alcoólatra inveterado, mulherengo, sociopata), e comece a reformá-lo, independentemente de que ele ou ela queira mudar de vida. Acredite firmemente que você pode transformar essa pessoa, e ignore todas as evidências em contrário.

Seja crítico e extremista.
Certifique-se de ter uma lista interminável de desgostos e expresse isto a todo momento, muitas vezes, mesmo que a sua opinião não seja solicitada. Seja um ignorante extremista, de direita ou de esquerda, e odeie miseravelmente os petralhas ou a burguesia. Vá para a internet e se porte como um troll criticando qualquer assunto e ao final cite uma "latinagem" qualquer para evidenciar seus domínios filosóficos. Critique as coisas que são muito apreciadas pela maioria das pessoas, de modo que seu desagrado fique bem latente. Ademais as pessoas lindamente miseráveis sabem que a crítica pode abrir um fecundo espaço de diálogo, por isso se esforçam em permanecer nos limites da queixa, que não é senão a expressão de sua fascinante mente para achar algo negativo em qualquer situação.

Fonte: Alternet.


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