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segunda-feira, 7 de junho de 2021

A Bomba que Nunca Explodiu

Por Jamille Lima

Em uma cidade do País Vasco, durante a guerra civil iniciada pelo ditador conservador defensor da família do bem, Francisco Franco, houve uma bomba que atingiu a terra, mas nunca explodiu. 

A bomba foi embutida no meio da praça central da pequena cidade. Os moradores surpresos e assustados não ousaram movê-la, muito menos desarmá-la. Lá permaneceu por anos durante o governo de Franco como um símbolo de morte, do poder do regime e do castigo de quem se revelou.

Um dia de primavera, pela manhã, Julen se cansou dos detalhes da paisagem que arruinava a praça, procurou por ferramentas e decidiu desmontar e remover o dispositivo.

 Nas primeiras horas trabalhou sozinho, ao meio-dia já contava com a ajuda dos amigos. (Porque se há algo pelo que morrer, que seja com os amigos) No meio da tarde, todas as pessoas da cidade já estavam na praça, na expectativa e colaborando como podiam.

Ao anoitecer, eles a desarmaram, entraram em uma carroça e decidiram que iam levá-la para a cidade vizinha, onde ficava a sede municipal da região. Mas o interessante da história foi o que encontraram dentro da ponta da bomba. 

Lá, junto com cabos e pedaços de metal, eles encontraram um papel manuscrito que continha apenas algumas palavras. Achavam que poderia indicar o local onde foi feito, seus componentes ou algumas instruções de uso, mas mesmo assim despertou a curiosidade das pessoas.

Claramente não estava em vasco, espanhol ou inglês. Aparentemente era alemão. Na aldeia, só havia uma pessoa que conseguia decifrar a escrita: Mirentxu, que quando criança, por causa do trabalho do pai, havia passado alguns anos em Hamburgo. 

Mirentxu estava naturalmente na praça. Ela foi solicitada e assumiu o papel. Demorou alguns segundos para ordenar as palavras e a gramática na sua mente. Para cortar o suspense disse olhando para todos os seus vizinhos (que ao mesmo tempo a olhavam em silêncio): “No papel está escrito o seguinte: Saudações de um operário alemão que não mata inocentes”.

Ninguém saiu da praça nas horas seguintes. Eles discutiram, conjeturaram e interpretaram o manuscrito de mil maneiras.

Por fim, antes da meia-noite, o povo decidiu por unanimidade que a bomba não iria embora, até mesmo voltaria ao seu lugar. A partir daquele momento, a bomba na praça passou a simbolizar a resistência, o fim do medo e o poder de um povo com consciência de classe. 

Tudo isso como um presente de um trabalhador alemão que, em meio à ditadura nazista, arriscou a pele e deixou claro que nem o medo nem o regime seriam capazes de torná-lo um monstro a mais.


Se você vive sob regime fascista, ou sob qualquer regime de morte, e tem o estranho "privilegio" de ser empregado, recebendo um salário, dentro dele, você o sabota. 

Não precisa estudar ciências políticas para saber disso. Você precisa somente de sensibilidade e empatia, e de saber as consequências HUMANAS das políticas que estão sendo aplicadas na frente dos seus narizes.