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terça-feira, 24 de dezembro de 2019

História do Lanche XVI: O Sorvete


Sorvete (português brasileiro) ou gelado (português europeu) é uma sobremesa gelada à base de lacticínios, como leite ou nata, à qual é adicionada fruta ou outros ingredientes e sabores.

A maior parte contém açúcar, embora alguns sejam feitos com adoçantes. Em alguns casos, são acrescentados corantes ou aromatizantes como complemento ou substituição dos ingredientes naturais.

A emulsão é batida lentamente durante o arrefecimento, de forma a incorporar ar e prevenir a formação de cristais de gelo de grandes dimensões.

O produto final é uma espuma semissólida suave e consistente, facilmente maleável e que pode ser retirada com uma colher.

Apesar da origem exata do sorvete não ser possível de determinar, existem registos históricos que nos dão uma visão do seu aparecimento.

A versão mais aceita atribui sua autoria aos chineses, por volta de 1000 a.C, quando, talvez, algum cozinheiro criativo experimentou usar flocos de neve para produzir uma iguaria diferente. Animados com o resultado, ao longo dos séculos, foram experimentando. Um outro resolveu colocar uma pasta de leite de arroz e especiarias na neve para que solidificasse

Na China de 4 000 anos atrás, uma sobremesa à base de leite e arroz foi congelada na neve e rapidamente a delícia ganhou prestígio, mas apenas entre a nobreza, que podia dispor de leite (então uma mercadoria cara) e tinha como conservar a neve até o verão, valendo-se de câmaras frigoríficas subterrâneas.

Alguns pesquisadores afirmam que foi Alexandre, o Grande (356-323 a.C.), rei da Macedônia, o introdutor do sorvete na Europa, trazendo do Oriente uma mistura de salada de frutas embebida em mel que era guardada em potes de barro enterrados no chão e mantidos frios com a neve do inverno.

Outra corrente de pesquisadores atribui esse feito aos árabes, que teriam aperfeiçoado a receita chinesa com o desenvolvimento da técnica de incorporar a neve ao suco de frutas e ao mel. Até então, a receita primitiva apenas acrescentava os ingredientes à neve, produzindo algo muito semelhante às atuais “raspadinhas”. Turcos e árabes garantem que “sorvete” é uma palavra de origem árabe, procedente de sharbat, que significa “bebida fresca”.

Babilônios, egípcios, gregos e romanos deliciaram-se com esta guloseima fria cuja preparação, entretanto, era muito complicada e cara, o que fazia do sorvete um prazer para poucos, só desfrutado por reis e pessoas privilegiadas da época. Exigia que se trouxesse neve do alto das montanhas, que ela fosse armazenada em buracos na terra revestidos de madeira onde o gelo era comprimido e coberto com palha para que se conservasse.

Já no século I o imperador romano Nero comia uma mistura de sorvete doce que era feito com a neve e o gelo transportado das montanhas para Roma. O gelo era misturado com coberturas de frutas tendo-se tornado numa sobremesa favorita das elites daqueles tempos.

Mais tarde, entre 618 e 697, o imperador chinês King Tang usava um método semelhante mas misturava leite com o gelo, ficando assim uma espécie de sorvete parecido com os atuais.

Em sua viagem à China, em 1271, o veneziano Marco Polo teria encontrado grande variedade de cremes congelados de frutas. As receitas de sorvete à base de água, teriam vindo em sua bagagem em 1295, junto com o macarrão e o arroz, muito parecidas com as atuais, mas não saíram da Itália.

Catarina de Médici que, ao se casar com o rei francês Henrique II em 1533, levou em sua bagagem receitas e chefes de cozinha que lhe serviam, diariamente, sorvetes dos mais diversos sabores de frutas. Foi um certo Buontalenti, cozinheiro de Catarina de Médici (1519-1589), que introduziu a requintada sobremesa na corte francesa.

Em 1550, Blasius Villafranca, físico espanhol radicado na cidade italiana de Florença, descobriu ser mais fácil congelar a mistura de suco de frutas e especiarias juntando azotato de potássio (salitre) à neve (técnica já conhecida dos chineses desde o século 12).

Essa descoberta deu origem ao que poderia ser chamada de primeira sorveteira da História: dois recipientes de madeira e estanho – um maior, dentro do qual se colocava a mistura de neve, sal e salitre, e outro menor, que recebia os ingredientes que, depois de batidos, virariam sorvete.

Com este rudimentar equipamento e utilizando um método difícil, Villafranca acabou legando aos florentinos a honra de produzir os primeiros a sorvetes completamente solidificados da História e ampliaram a produção democratizando um pouco o consumo do produto. Até meados do século 16, o sorvete continuava a ser preparado com água, ou seja, sem leite ou ovos.

A neta de Catarina de Médicis casou-se em 1630 com Carlos I da Inglaterra e, segundo a tradição da avó, também introduziu o sorvete entre os ingleses. Mais tarde os colonizadores britânicos levaram o sorvete para os Estados Unidos onde este tipo de sobremesa rapidamente ganhou a mesma aceitação que na Europa.

Em Portugal, o sorvete chegou durante o período de dominação espanhola (1580-1640) e faziam sucesso as bebidas nevadas, embora fosse difícil e caro trazer neve da Serra da Estrela para a corte em Lisboa.

Em 1670, o siciliano Francisco Procópio abriu em Paris um café que vendia sorvetes – a primeira sorveteria da história. Surgiram assim novas receitas de misturas geladas com leite e outros ingredientes aromáticos que eram servidos principalmente nas cortes reais francesa e italiana. O sucesso foi tão grande que, seis anos depois (1676), havia mais de 250 fabricantes de sorvete na capital francesa.

Em 1671, na Inglaterra, o leite ou seu creme, ovos e aromatizantes foram incorporados ao sorvete pelo francês DeMirco, pâtissier do rei Carlos II que, diante de uma novidade tão espetacular, tornou ilegal o consumo da iguaria fora da corte real e, dizem, para se garantir, até morrer, em 1685, pagou royalties ao chef pela criação, para que esta fosse exclusividade da sua mesa.

Por volta de 1715, no reinado de D. João V, havia inúmeros fabricantes de sorvete na capital portuguesa. A primeira sorveteria da Inglaterra foi aberta em 1757, na Berkeley Square, Londres, pelo chef-pâtissier italiano Domenico Negri, com o nome de Pot & Pine Apple.

O sorvete chegou aos Estados Unidos em 1770 levado pelo italiano Giovanni Bosio. Em 1776, a cidade de Nova York já tinha o seu próprio salão de sorvetes clássico, tendo-se começado a instituir pela primeira vez o termo “ice cream”, que derivou de “iced cream”. Personalidades americanas como Thomas Jefferson, George Washington e outros, serviam-na aos seus convidados.

Mesmo com todo este sucesso, fabricar sorvete era algo bastante difícil. Esta dificuldade foi resolvida em 1846, quando a norte-americana Nancy Johnson inventou uma espécie de congelador que funcionava com uma manivela e agitava uma mistura dos ingredientes. Na parte de baixo existia uma mistura de sal e gelo que ajudava ao congelamento. Foi esta a máquina percursora da produção industrial de sorvete.

No seguimento da invenção de Nancy, em 1851 e também nos Estados Unidos, o sorvete  viveu um dos momentos mais importantes da sua história. O leiteiro Jacob Fussel abriu a primeira fábrica de sorvetes em Baltimore, começando a produzir em grande escala, acabando por ser copiado por outros empresários de Boston, Washington e Nova York.

O cone do sorvete foi inventado pelo italiano Italo Marcioni, que registou a sua patente em 1903.

Por volta do ano de 1922, um produtor de salsichas britânico começou a ficar preocupado com a quebra nas vendas durante os meses quentes do ano, pois não tinha trabalho para ocupar os seus trabalhadores. Foi quando decidiu produzir gelados embalados e vendê-los a um preço muito acessível.

A venda realizava-se nas ruas usando um carrinho de três rodas com a seguinte publicidade: “Stop me and buy one” (pare-me e compre um). Tinha nascido a venda ambulante de gelados.

Foram os cariocas os primeiros brasileiros a experimentar a delícia gelada que já fazia sucesso em boa parte do mundo.

No dia 23 de agosto de 1834, Lourenço Fallas inaugurava na cidade do Rio de Janeiro, dois estabelecimentos – um no Largo do Paço (atual Praça XV) e outro na Rua do Ouvidor – especialmente destinados à venda de gelados e sorvetes.

Para isso, importou de Boston (EUA), pelo navio americano Madagascar, 217 toneladas de gelo, que aqui foi conservado envolto em serragem e enterrado em grandes covas, mantendo-se por 4 a 5 meses.

Não demorou muito para os sorvetes brasileiros ganharem um toque tropical, misturados a carambola, pitanga, jabuticaba, manga, caju e coco. Na época, não havia como conservar o sorvete gelado, por isso ele tinha que ser consumido logo após o preparo. Por isso, as sorveterias anunciavam a hora certa de tomá-lo.

Em São Paulo, a primeira notícia de sorvete que se tem registro é de um anúncio no jornal A Província de São Paulo, de 4 de janeiro de 1878, que dizia: “Sorvetes – todos os dias às 15 horas, na Rua direita nº 14”.

"No Brasil, antes do sorvete, as mulheres eram proibidas de entrar em bares, cafés, docerias, confeitarias… Para saboreá-lo, entretanto, a mulher praticou um de seus primeiros atos de rebeldia contra a estrutura social vigente, invadindo bares e confeitarias, lugares ocupados até então quase que exclusivamente pelos homens. Por isso, entre nós, o sorvete chegou a ser considerado o precursor do movimento de liberação feminina."

A evolução do sorvete no Brasil, deu-se a passos curtos, de forma artesanal, com uma produção em pequena escala e em poucos locais.

A distribuição em escala industrial no País só aconteceu a partir de julho de 1941, quando, nos galpões alugados da falida fábrica de sorvetes Gato Preto, na cidade do Rio de Janeiro, foi fundada a U.S. Harkson do Brasil, a primeira indústria brasileira de sorvete. Contava com 50 carrinhos, quatro conservadoras e sete funcionários.

Seu primeiro lançamento, em 1942, foi o Eski-bon, seguido pelo Chicabon. Seus formatos e embalagens são revolucionários para a época. Dezoito anos mais tarde, a Harkson mudou seu nome para Kibon.

Fontes:



domingo, 22 de dezembro de 2019

História do lanche XV: O "Petit Gâteau"


O nome “Petit Gâteau” significa “pequeno bolo” (na França é conhecida como “fondant au chocolat”). A denominação “petit gâteau" é possivelmente uma invenção norte-americana.

Sua composição lembra a origem francesa das populares “tartes au chocolat” e principalmente o “fondant”. Em inglês, seu nome é “warm, soft chocolate cake”. Tem que ter uma casquinha crocante e o recheio com consistência de calda.

A história do petit gâteau é controversa. Alguns defendem que ele foi criado na Itália, mas as duas versões mais conhecidas que explicam o surgimento do petit gâteau, são americana e francesa.

Segundos os americanos, um chef de cozinha aprendiz aqueceu demais o forno, permitindo que o “bolinho” não assasse completamente. Quando se deu conta, a casca estava crocante, mas a massa interna ainda crua. Os clientes adoraram.

Já os franceses afirmam que a invenção pertence ao chef francês radicado em Nova York, Jean-Georges Vongerichten, que errou na quantidade de farinha e obteve o famoso bolinho para alegria dos presentes no restaurante.

O chef americano David Lebovitz, entretanto, afirma que conhece ao menos três chefs renomados que reivindicam a autoria do bolinho, e cita também o vencedor de um concurso de culinária nos EUA, em 1966, que teria conquistado os jurados com uma sobremesa chamada túnel de fudge cremoso.

O Brasil apenas teve oportunidade de conhecer a receita através de dois grandes chef’s franceses: Erick Jacquin e Michel Brás, pioneiros na produção destes bolinhos em alguns restaurantes em São Paulo na década de 1990.

Apesar das suas versões, podemos concluir que esta sobremesa surgiu a partir de um erro, tornando-se um dos erros mais saborosos que o mundo conheceu. Talvez este seja o motivo que levou outros chefs a aperfeiçoarem a receita, incorporando outros elementos que deixassem o petit gâteau ainda mais perfeito.

Normalmente, é servido com uma bola de sorvete de creme ou baunilha, cobertura de chocolate e raspas de chocolate branco ou preto e lascas de amêndoas. As variações são sempre muito bem-vindas.

Fontes:

História do Lanche XIV: O Pudim


A história do pudim é um pouco controversa. Acredita-se que a palavra ‘pudim’ vem do francês boudin, originalmente do latim botellus, o que significaria “salsicha pequena”, em referência às carnes compactadas utilizadas nos pudins da Europa Medieval, já que estes eram servidos em sua forma salgada.

Muito antes do delicioso e já conhecido pudim de leite condensado, famoso em várias regiões do Brasil, a receita de pudim mais usada antigamente no mundo era a do “bolo de pudim” e seus vários tipos: pudim de sangue, pudim preto, pudim de Yorkshire.

Os pudins antigos eram servidos como uma massa sólida, sendo a mistura de vários ingredientes unidos por uma liga, como a farinha de trigo, ovos, uma mistura de gordura e farinha ou algum outro cereal.

Apesar de bem diferentes do que reconhecemos, essas receitas de pudins são apreciadas em várias partes do mundo, como em países da Europa, onde são servidas como prato principal ou sobremesa.
Isto acontece pois, em alguns lugares, receitas de polenta, cural de milho, chouriço e outras mais são consideradas como os antigos pudins. Uma diferença na definição de “pudim” que pode gerar algumas confusões!
Muitos pudins deste tipo lembram os nossos conhecidos bolos e cremes, mas são mais molhadinhos e geralmente servidos emborcados em uma tigela, em vez de fatias.

O modo de preparo dessas receitas de pudins pode variar entre assados, cozidos ou até fervidos.
É comum vê-los acompanhados de manjar ou sorvete, lembrando um pouco da tradicional e muito popular sobremesa francesa petit gateau.

Pudins salgados e cozidos eram refeições principais e bastante comuns a bordo dos navios da Marinha Real Inglesa nos séculos XVIII e XIX, e constituíam-se no modo usual pelo qual os marinheiros britânicos se alimentavam, era forma pela qual as rações diárias de farinha e gordura eram preparadas.

Os pudins antigos são apresentados em forma de massa sólida, constituída pela mistura de vários ingredientes unidos por uma liga que pode incluir farinha de trigo (como no Pudim de Yorkshire), sangue (pudim preto), ovos (pudim de pão), ou uma mistura de gordura e farinha ou algum outro cereal (pudim de ameixa). Esses tipos de pudim podem ser assados, cozidos ou fervidos. Esse tipo ainda é comum em vários lugares, especialmente na Grã-Bretanha, e pode ser o prato principal de uma refeição ou a sobremesa.

Muitos pudins de sobremesa desse tipo lembram bolos, mas são mais úmidos e geralmente servidos em bocados numa tigela, em vez de fatias, acompanhado de manjar ou sorvete. Esse é o tipo de prato que a palavra pudim evoca à Austrália (por exemplo, o pudim de Natal ou a forma britânica do pudim de chocolate). Embora outros pratos sejam denominados pudins na Austrália (por exemplo, o pudim de arroz ou o pudim instantâneo, os quais pertencem à segunda categoria, abaixo), em tais casos a palavra é quase sempre qualificada com um adjetivo.

O tipo mais novo de pudim pode ser tanto um prato de sobremesa como pode ser consumido sem ser um acompanhamento. O preparo habitual faz com que o açúcar e outros ingredientes sejam solidificados por meio de algum agente estrutural gelificante como amido de milho, gelatina, ovos, tapioca e outras féculas. A esse tipo pertencem o manjar e o manjar branco.

Eles estão disponíveis em apresentações que exigem algum cozimento ou prontos para consumo. Alimentos relacionados incluem sobremesas de gelatina tais como Jell-O e as geleias de mocotó.
As receitas evoluíram com o passar do tempo, até que chegassem a receita popularmente conhecida no Brasil: O pudim de leite condensado.

Originada em Portugal, a história conta que a sobremesa foi inventada por um abade português, cargo superior dos monges de uma abadia. Ele não divulgava a receita, mas como o quitute acabou se tornando um grande sucesso diversos confeiteiros tentaram copiar.

Ninguém conseguia fazer um pudim de leite condensado como ele. Porém, após a sua morte os ingredientes secretos foram revelados: açúcar; gemas; água e toucinho de porco faziam do Pudim de Priscos, o sucesso da culinária portuguesa.

Fontes:


Ser Feliz igual ao Buda


Por Igor Teo
Eu acho o budismo particularmente interessante por ser uma filosofia-religião que, desde o princípio, se dedicou a pensar sobre o problema da felicidade. Afinal, todos nós queremos ser felizes. O que é necessário para alcançá-la?

Antes de ser o Buda, Sidarta Gautama cresceu num palácio. Ele experimentou todo tipo de privilégios que um homem rico e bem-afortunado de sua época poderia obter. Já quando adulto, decidiu abandonar sua vida de luxo e viajar pelo mundo. Fora das muralhas de onde cresceu, encontrou a dor, a velhice e a morte.

Sidarta descobriu que, por conta disto, as pessoas estavam em constante sofrimento no mundo. E ele queria fazer algo para ajudá-las. Portanto, decidiu que iria estudar a felicidade, e quando a compreendesse, poderia finalmente curar o sofrimento do mundo.

Se um acadêmico de nosso tempo desejasse estudar a felicidade, provavelmente realizaria um estudo estatístico através de um questionário, ou talvez tentaria medir as reações fisiológicas de suas cobaias diante de diversos estímulos.

Nada disso existia na época de Buda. O método que ele desenvolveu era muito mais simples. Sidarta apenas começou a meditar. A escutar a si mesmo.

Ele prestava atenção a sua mente, a seus pensamentos, e até mesmo a sua respiração. Foi assim que ele começou a entender como seu organismo reagia às diferentes coisas que lhe aconteciam.

Sidarta descobriu deste modo que estamos muito enganados sobre como podemos encontrar a felicidade. Primeiro, porque pensamos que a felicidade é algo a “encontrar”, como se fosse algo a ganhar depois de ter um amor, uma casa nova, um trabalho ou uma realização.

É verdade que essas coisas podem nos trazer alegrias, mas o prazer delas não é permanente. E isto não era o suficiente para o jovem Sidarta. Como poderíamos nos contentar com a felicidade de uma conquista se, no dia seguinte a ela, nos acostumamos ao ocorrido e voltamos a nos sentir da mesma maneira que antes? Como nos contentar com algo se isso não pode ser absoluto?

Pois nada é permanente. Nem o mais rico palácio, nem o corpo mais belo. Muito menos a sensação de felicidade ao possuir estas coisas. Um dia tudo acaba ou se transforma, de modo que a alegria que você tem agora pode se tornar tristeza no momento seguinte.

É verdade que prazeres externos — como riqueza, beleza e honra — são ilusórios. Mas Sidarta foi mais além que todos os pensadores de sua época ao dizer que o modo como nos sentimos também é uma ilusão. Durante um dia mesmo experenciamos uma variedade de emoções. Nenhuma delas é permanente. Por que confiar então na sua felicidade?

Queremos a felicidade porque ela nos faz sentir bem, diferente da tristeza, da raiva ou do medo. Se algo nos deixa felizes, queremos manter esta sensação prazerosa. Como um beijo, um abraço ou a sensação de ganhar uma partida de futebol.

Deste modo, o ser humano sempre controlou o ambiente para atender aos seus desejos. Para que as coisas lhe fizessem bem, e não mal. Criou a fogueira para enfrentar o frio. Mais recentemente, criou o ar condicionado para enfrentar o calor.

Fazemos o que está ao nosso alcance para evitar o sofrimento. Porém, Sidarta percebeu que o ser humano frequentemente se excede nessa busca. Queremos controlar até o mesmo o incontrolável.
Neste momento surge o sofrimento. Quando fazemos de tudo para evitar a dor, a morte e a velhice, e mesmo assim estas coisas ainda acontecem. Paradoxalmente, sofremos justamente quando mais tentamos não sofrer.

Sidarta entendeu que estamos sempre buscando algo. Ele mesmo também estava buscando a felicidade. E viu que isto não estava lhe levando a lugar nenhum. Foi quando finalmente resolveu desistir da busca. Assim se tornou o Buda.

Vivemos uma espiral infinita de necessidades. Sentimos fome, sono, tesão, curiosidade, e por aí vai... Cada uma destas necessidades nos traz um desconforto que queremos solucionar. O nome do que acontece depois que solucionamos um desconforto, um sofrimento, é prazer.

Estamos sempre buscando o prazer. Queremos coisas que saciem nossa fome, que curem nosso cansaço, que satisfaçam o nosso tesão, que alimentem a nossa curiosidade. E por isto mesmo nunca podemos ser felizes. Porque sempre estamos em busca de algo mais, nunca contentes com aquilo que já temos.

Buda entendeu que precisava erradicar o problema pela raiz. Se ele interrompesse o ciclo infinito de necessidades, poderia se sentir mais satisfeito com as coisas que já tinha, por mais parciais, imperfeitas e transitórias que elas fossem. Ele começaria a amar o mundo mesmo com toda dor, velhice e morte.

Dito de outro modo: é claro que um carro novo pode ser muito mais bonito que o seu atual. Mas um carro velho funcionando já pode lhe ajudar a resolver os seus problemas. Será que você realmente precisa de algo mais?

A resposta mais humana a esta pergunta é sim. Nossa sociedade está orientada ao “progresso” constante e infinito. Sentimos que precisamos fazer as coisas de um modo mais rápido, potente e produtivo. Sempre falta algo que podia ser melhor. Precisamos sempre de algo mais.

Porém, o preço de estar sempre querendo mais é viver também sempre descontente. Ao compreender isto, Buda ensinou que se dermos menos atenção a essas variadas necessidades daquilo que pode nos faltar, perceberemos que já temos muitas coisas para sermos felizes agora.

Eu sei que parece muito estranho pensar que a solução para a infelicidade seja simplesmente “não querer mais o que falta e ser feliz assim”. Temos um corpo, um organismo que precisa se manter vivo. Sempre vamos precisar de algo: de comida, de proteção, de amor!

No entanto, essas coisas podem ser mais fáceis e simples do que pensamos. A insaciabilidade do nosso desejo nos faz querer sempre mais, como se tudo aquilo que temos nunca fosse o suficiente. É por isto que o ensinamento budista é tão importante: precisamos deixar de querer mais para perceber que já temos o suficiente.

Quando colocamos isso em prática, percebemos que a natureza ao nosso redor é bela e merece ser apreciada com atenção. Que nossos amigos são os companheiros que realmente precisamos. Que nossa comida é saborosa para o nosso paladar. Todos os dias podemos experimentar momentos de satisfação e gratidão, que normalmente desprezamos por estarmos sempre buscando por mais.

Numa postura de maior aceitação, Buda entendeu que podia curar o sofrimento das pessoas fazendo com que elas esperassem menos pelas coisas que não podiam obter, e aceitassem com apreço aquilo que já possuíam em suas vidas. Qualquer um poderia se tornar feliz seguindo os seus passos.



sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

A Mendiga e o Samurai


Por Revista Pazes - agosto 5, 2019

Conta-se que um bravo samurai viveu na ilha de Hokaido, no norte do Japão. Ele era um senhor feudal que possuía grandes áreas de terra, tendo, assim, muitos súditos. Tudo adquiriu após diversas batalhas, no comandando as tropas do Imperador.

Certa feita, após uma guerra, voltou para a sua terra natal e decidiu que iria casar-se. Tratava-se de um homem forte e belo e, quando a notícia de que o Samurai desejava casar-se se espalhou, por toda a ilha as mulheres ansiavam por desposá-lo. As mulheres mais bonitas da ilha e de outras ilhas mais distantes o visitavam em seu palácio, sendo que muitas delas lhe ofereceram, além de sua beleza e encantos, muitas riquezas. Nenhuma, contudo,  o satisfez o suficiente para se tornar sua esposa.

Um dia, uma jovem maltrapilha e simples  chegou ao palácio do samurai e, com muita luta, conseguiu uma audiência:
“Eu não tenho nada material para lhe oferecer, só posso lhe dar o grande amor que sinto por você”. Como prova, complementou: “Se você me permitir, eu posso fazer algo para te mostrar esse amor”.

Isso despertou a curiosidade do samurai, que lhe pediu para dizer o que poderia fazer.

“Vou passar 100 dias em sua varanda, sem comer ou beber nada, exposta à chuva, sereno, sol e frio à noite. Se eu aguentar esses 100 dias, você me fará a sua esposa”, afirmou a jovem.

O samurai, surpreso (embora não comovido), aceitou o desafio. Ele disse: “Eu aceito. Se uma mulher pode fazer tudo isso por mim, ela é digna de ser minha esposa”.

Dito isto, a mulher começou seu sacrifício.

Os dias começaram a passar e a mulher suportou bravamente as piores tempestades. Muitas vezes ela sentia que desmaiava de fome e frio, mas encorajou-se a por imaginar que que finalmente estaria ao lado de seu grande amor.

De tempos em tempos, o samurai mostrava seu rosto do conforto de seu quarto para vê-la e acenava com o polegar.

À noite a temperatura caiu para muitos graus negativos e isso por si só deveria ser de uma grande penúria, porque ela não tinha um único cobertor.

Foi assim que o tempo passou: 20 dias, 50 dias… As pessoas da ilha ficaram felizes porque pensaram: Finalmente teremos uma esposa para o nosso senhor!

90 dias … O samurai continuou a mostrar a cabeça de vez em quando para ver como estava o sacrifício de sua pretendente: “Esta mulher é incrível”, ele pensou consigo mesmo, e lhe deu encorajamento novamente.

O dia 99 finalmente chegou e todos os habitantes da ilha começaram a se reunir nos arredores do palácio para ver o momento em que aquela mulher se tornaria a esposa do samurai. Eles estavam contando as horas, às 12 horas daquele dia, eles teriam um casamento.

A pobre mulher, em sua grande simplicidade, foi ainda acometida por extrema fraqueza e por doenças… Então algo inseperado aconteceu: às 11 da noite do centésimo dia, a mulher corajosa se rendeu e decidiu se retirar daquele palácio. Deu uma olhada triste no samurai que o fitava surpreso e saiu sem dizer uma palavra.

As pessoas ficaram chocadas! Ninguém conseguia entender por que aquela mulher corajosa desistira de apenas uma hora a mais para ver seus sonhos se tornarem realidade. Ela já havia suportado tanto!

Ao chegar em sua casa, seu pai já sabia da sua desistência e perguntou: “Por que você desistiu de ser a esposa do grande samurai?”

E, para seu espanto, ela respondeu: “Eu tinha 99 dias e 23 horas em sua varanda, suportando todos os tipos de calamidades e ele foi incapaz se me liberar desse sacrifício. Ele meu viu sofrendo e só me encorajou a continuar, sem mostrar nem um pouco de compaixão pelo meu sofrimento. Eu esperei todo esse tempo por um vislumbre de bondade e consideração que nunca veio. Então eu entendi: uma pessoa tão egoísta, imprudente e cega, que só pensa em si mesma, não merece meu amor!”

Isso nos faz refletir: quando você ama alguém e sente que para manter essa pessoa ao seu lado você tem que sofrer, sacrificar sua essência e até implorar, mesmo que doa, se retire. E não tanto porque as coisas ficam difíceis, mas porque quem não faz você se sentir valorizado, quem não é capaz de lhe doar o melhor de si mesmo, será incapaz de retribuir o compromisso e a entrega que você dispensou a ele e, DEFINITIVAMENTE, você merece um amor do tamanho de si.

Este conto foi adaptado do site: Rincón del Tibet


Os 5 Benefícios da Adversidade


Precisamos parar de ver a adversidade como um inimigo e começar a vê-la simplesmente como uma situação. As situações não são simplesmente um lugar onde estamos ou uma circunstância pela qual estamos passando, mas implicam a maneira como assumimos esses fatos, assim como os pensamentos e emoções que vêm à nossa mente naquele momento.

Isso significa que cada situação é um microcosmo que inclui, por um lado, os fatos e, por outro, nossa reação ao que nos acontece. Portanto, uma mudança em uma dessas variáveis ​​nos levará a uma situação diferente, para outro microcosmo. Às vezes não podemos mudar os fatos, mas podemos mudar a maneira como reagimos. E isso geralmente é o suficiente para sair da situação angustiante que tira nosso oxigênio psicológico.

Um bom ponto de partida é assumir a adversidade como uma oportunidade para conhecer melhor uns aos outros e enriquecer nossa mochila com novas ferramentas psicológicas para a vida. Para fazer isso, devemos entender que a adversidade:

• Nos ajuda a construir resiliência. A resiliência não é o produto de uma vida simples, mas é forjada nas circunstâncias mais difíceis, quando expandimos nossas forças para avançar, apesar de tudo e de todos. Todos os desafios que enfrentamos e superamos fortalecem nossa vontade e desenvolvem nossa capacidade de superar os obstáculos que aparecerão no futuro.

• Fortalece a autoconfiança. Superar a adversidade nos ajuda a sustentar a força interior. Somos o que somos por causa das experiências que vivemos e da maneira como lidamos com elas. Enfrentar a adversidade com sucesso nos dá a autoconfiança necessária para superar novos problemas sem desmoronar, com a certeza de que teremos sucesso, seja ele qual for.

• Aprendemos a nos sentir mais confortáveis ​​na incerteza. A adversidade nos tira da nossa zona de conforto , enfrentando face a face com a incerteza. Isso nos permite aprender a lidar com o desconforto gerado pelo incerto e pelo desconhecido, de modo que, no final, nossa zona de conforto seja cada vez mais ampla.

• Isso nos permite descobrir nossos pontos fortes. As situações limítrofes podem trazer à luz nossas melhores habilidades e pontos fortes, qualidades que de outra forma teriam permanecido na sombra. A adversidade nos encoraja a superar nossos limites e a descobrir um novo “eu”. Não é por acaso que um estudo realizado na Universidade McGill irá revelar uma estreita relação entre resiliência e autoconsciência.

• Estimula a aceitação incondicional. A adversidade é inevitável, faz parte da vida. Resistir ou negar isso só fará com que volte com uma força destrutiva crescente. É por isso que os problemas são uma excelente oportunidade para praticar a aceitação radical , para assumir que há coisas que não podemos mudar, mas ainda assim podemos continuar a viver e até a desfrutar a vida.

Não devemos esquecer que a adversidade é uma das forças mais poderosas da vida. Pode trazer o melhor ou o pior de nós. A decisão é nossa.

Fontes: Oshio, A. et. Al. (2018) Resiliência e Big Five Personality Traits: Uma meta-análise. Personalidade e Diferenças Individuais ; 127: 54-60.



domingo, 24 de novembro de 2019

História do Lanche XIII: Peixe com fritas


Quando você pensa em peixe com batatas fritas (fish and chips) , costuma associá-lo à Grã-Bretanha, onde o prato onipresente se tornou um clássico amado.

Mas a refeição não se originou lá, como Jamie Oliver destacou em uma entrevista ao The New York Times . Em vez disso, o peixe com batatas fritas chegou ao Reino Unido via imigrantes judeus portugueses .

Discutindo os vários fatores que afetam a culinária, como “comércio, fome de guerra e centenas de outras forças”, Oliver disse: “Você tem os britânicos apaixonados por peixe e batatas fritas agora, e fica muito chateado quando você diz: "Você sabe que é um prato judeu português em primeiro lugar."

"Se você quer voltar para a culinária britânica realmente original, é cardo e repolho."

Segundo o Times de Israel , o povo judeu sefardita português, que fugiu da Inquisição no século XVI, comeu o prato originalmente porque o peixe é pareve, o que significa que ele se encaixa nas diretrizes religiosas daqueles que seguem uma dieta kosher.

O prato também foi útil para os judeus que fingiam ser cristãos durante a Inquisição, pois a refeição significava que eles poderiam evitar carne às sextas-feiras, enquanto restavam comida para comer no Shabat, quando é proibido cozinhar.

Quando o povo judeu se estabeleceu nas Ilhas Britânicas, eles continuaram a fazer o peixe frito e a vendê-lo na rua.

A variedade de peixes entrou na cultura popular quando Charles Dickens se referiu a um "armazém de peixe frito" em Oliver Twist em 1839, enquanto Thomas Jefferson disse que tentou "peixe à moda judaica" durante uma visita a Londres, de acordo com o The Book of Comida judaica .

Embora a primeira pessoa a servir o peixe com batatas fritas seja desconhecida, muitos dão crédito a Joseph Malin, um imigrante judeu que serviu a refeição completa por volta de 1860, segundo a BBC .

Outros creditam um "empresário do norte" chamado John Lees, que se acredita ter vendido peixe e batatas fritas em Lancashire já em 1863.

O prato ganhou popularidade entre os trabalhadores por ser acessível e, em 1927, havia cerca de 35.000 lojas de peixe e batatas fritas no país.


domingo, 13 de janeiro de 2019

O Teste dos Feijões


Diz a lenda que um monge, próximo de se aposentar, precisava encontrar um sucessor.
Entre seus discípulos, dois já haviam dado mostras de que eram os mais aptos, mas apenas um poderia.
Para sanar as dúvidas sobre qual seria o escolhido, o mestre lançou um desafio, colocando a sabedoria deles à prova: ambos receberiam alguns grãos de feijão, que deveriam colocar dentro dos sapatos, para então empreender a subida de uma grande montanha.
Dia e hora marcados, começa a prova.
Nos primeiros quilômetros, um dos discípulos começou a mancar.
No meio da subida, parou e tirou os sapatos.
As bolhas em seus pés já sangravam, causando imensa dor.
Ficou para trás, observando seu oponente sumir de vista.
Prova encerrada, todos de volta ao pé da montanha, para ouvir do monge o óbvio anúncio.
Após o festejo, o derrotado aproxima-se do vencedor e pergunta como é que ele havia conseguido subir e descer com os feijões nos sapatos:
– Antes de colocá-los no sapato, eu os cozinhei!
Carregando feijões ou problemas, há sempre um jeito mais fácil de levar a vida.
Os problemas são inevitáveis, mas a intensidade e a duração do sofrimento é você quem determina.
(Autor desconhecido)